7.9.13

OS RISCOS DA AUTOMEDICAÇÃO


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Quando eu ainda era criança, achava interessante algumas conversas dos adultos. Especialmente conversas entre mães. Na concepção da minha inteligência infantil, elas eram seres superiores, dotadas de conhecimentos muito elevados e, principalmente, eram sábias especialistas em assuntos de saúde. Sabiam sempre identificar qual era a doença de que o filho da vizinha estava acometido. E eram capazes de curá-lo.
As conversas fluíam mais ou menos assim: “A minha menina teve algo parecido quando era criança e ficou melhor ao tomar o xarope “xis”. Foi tão bom para ela... Experimente com o seu filho. Vai ver, é 'tiro e queda'.”
“Credo! O seu filho está com essa doença?! Ponha-lhe esta pomadinha; é um santo remédio!”
E eu ficava encantada com tamanha demonstração de sabedoria.
Foi só muito mais tarde que passei a compreender o que realmente estava a acontecer durante esses diálogos. As mães, cobertas de boas intenções, estavam a induzir alguma amiga a medicar algum dos filhos por conta própria. E nem se apercebiam do risco que essa atitude podia significar.

Mau costume
Bem, mas vamos entender o que vem a ser automedicação. Numa definição simples, automedicação é fazer uso de medicamentos sem prescrição médica. É uma prática na qual o próprio paciente decide qual o remédio a utilizar; ou seja, é o acto de medicar-se a si mesmo.
O uso indiscriminado e desnecessário de medicamentos parece ser um fenómeno crescente. Milhões de pessoas, em todo o mundo, são adeptas da automedicação, seja pela dificuldade encontrada no serviço público de saúde, seja por influência de propagandas, ou simplesmente por uma questão de hábito.

missing image fileOs riscos
Entre os efeitos colaterais mais comuns, causados pelos medicamentos, está a intoxicação. Todos os anos, grande percentagem dos casos de intoxicação registados em hospitais são provocados pelo uso indiscriminado de medicamentos. Na opinião dos farmacêuticos, muitos desses casos são os frutos colhidos através do uso de remédios independente da orientação médica.
Embora de um modo geral os medicamentos sejam seguros e eficazes no combate a males específicos, é preciso considerar que não são isentos de riscos, quando usados aleatoriamente e sem acompanhamento especializado. Portanto, são necessários cuidados especiais para a sua utilização.
Os medicamentos mais utilizados no contexto da automedicação são os antibióticos, os antipiréticos, os antigripais, as vitaminas, os descongestionantes nasais e os anticoncepcionais. Paracelso, que viveu de 1493 a 1541, já afirmava que “a dose correcta é que diferencia um veneno de um remédio”. Por isso, uma dose acima da indicada, quando é administrada por via imprópria (oral, intramuscular, rectal, etc.), pode transformar um inofensivo medicamento num tóxico perigoso.
Alguns antigripais, por exemplo, têm uma substância vasoconstritora potencialmente perigosa para quem sofre de insuficiência coronária ou hipertensão. Alguns medicamentos utilizados em casos de hipertensão, os chamados beta-bloqueadores, são contra-indicados para quem tem asma. Alguns antibióticos podem reduzir o efeito dos anticoncepcionais. Determinados anti-inflamatórios podem causar úlcera gástrica. Portanto, a prática da automedicação oferece um leque de situações que, às vezes, não trazem nenhum prejuízo, mas algumas vezes implicam risco de morte para o paciente.

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Lembretes importantes
 Os medicamentos só devem ser usados sob orientação médica.
 No momento da compra, é importante e necessário verificar o prazo de validade do medicamento, bem como se o número de série do lote do medicamento coincide com o número do lote impresso na embalagem.
 Verifique a aparência da embalagem e do produto, observando as suas condições de conservação.
 Para melhor conservação e maior tempo de utilização do produto, siga atentamente as instruções constantes na bula.
 Todo e qualquer remédio deve ser mantido fora do alcance das crianças.
 Se durante ou após o uso de um medicamento surgirem manifestações alérgicas ou outras reacções, informe imediatamente o seu médico.
 Se durante a consulta houver dúvida sobre um medicamento prescrito, solicite ao médico todos os esclarecimentos que achar necessários.
 A aspirina, os antigripais e os comprimidos para a dor, em geral, podem causar irritação na mucosa do estômago. Por isso, evite ingeri-los sem orientação médica.
 Lembre-se: a mudança de hábitos de vida pode contribuir para a correcção de certas disfunções do organismo.
 Apenas o médico, apoiado numa série de informações para estabelecer um diagnóstico correcto, tem reais condições para avaliar a necessidade ou não de usar um determinado medicamento.
 Nunca use medicamentos indicados por um leigo.
 O efeito dos remédios pode variar de pessoa para pessoa.
 Automedicar-se é muitas vezes gastar dinheiro duplamente: primeiro, com o produto adquirido sem prescrição médica; depois, com o medicamento receitado pelo médico.


Ameaça natural

Outra situa ção que merece consideração é o uso indiscriminado dos medicamentos fitoterapêuticos. Apesar do adágio popular no sentido de que “o que é natural não faz mal”, algumas plantas podem, sim, fazer mal. Exemplos não faltam. Se a dose recomendada for ultrapassada, o eucalipto em infusão ou essência, pode provocar gastrenterite e hematúria (sangue na urina). E, no caso do funcho, pode provocar convulsões.
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Essas reac ções indesejadas podem ser evitadas com uma simples consulta a um profissional da área de saúde. Muitas vezes o profissional qualificado mais acessível, para muitas pessoas, é o farmacêutico, que não deve ser confundido com o ajudante de farmácia. Este vende, simplesmente o produto. O farmacêutico é o profissional indicado para orientar quanto às especialidades da sua área e esclarecer o paciente sobre o uso dos medicamentos. Porém, os médicos é que são responsáveis pelo receituário. E a substituição da receita médica pela indicação do ajudante de farmácia é certamente uma má opção para a saúde individual.
Para os adeptos da automedica ção, os xaropes, analgésicos, gotas nasais e laxantes encontrados nas prateleiras das farmácias parecem convidativos, sem nenhum perigo, inofensivos. Mas a utilização indevida desses produtos prejudica seriamente os seus consumidores.
Se tem crian ças em casa, é gestante, ou tem algum idoso sob a sua assistência, o cuidado deve ser redobrado; no caso das crianças, porque elas ainda estão em fase de desenvolvimento, o que pode ser negativamente alterado. As gestantes que se automedicam podem prejudicar gravemente o feto. E os idosos podem ter agravado ainda mais todo o funcionamento orgânico, que já é mais vulnerável nessa fase da vida.
Para evitar riscos e manter a sa úde em dia, não tome medicamentos por conta própria. Consulte sempre um médico, antes de tomar qualquer decisão nesse sentido. Além do mais, a vida saudável não se limita ao balcão da farmácia. Ela encontra-se, antes de tudo, nos cuidados de higiene pessoal e ambiental, nos hábitos sadios de vida. A prática regular de exercícios, a alimentação equilibrada, a eliminação do que é prejudicial, a água pura, a luz solar, o descanso regular e, principalmente, a confiança em Deus, são os remédios mais importantes necessários à manutenção da saúde.

Adriana L. Köhler TeixeiraFarmacêutica

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