25.11.13

PROTEGENDO A CRIANÇA NA CRISE

“Quando os tempos são difíceis, os alimentos processados, com altos teores em gordura e açúcares, e baixo valor em nutrientes essenciais, tornam-se na maneira mais barata para encher estômagos vazios. Estes alimentos contribuem para a obesidade e doenças crónicas baseadas na dieta, além de inibir as crianças dos nutrientes essenciais. Mas há outras ameaças para a saúde que necessitamos de antecipar, em tempos de crise económica. … Também sabemos, que as mulheres e crianças estão entre os primeiros a serem afectados pela deterioração das circunstâncias financeiras e disponibilidade alimentar. As mulheres estão entre as últimas a recuperarem quando as condições melhoram.”
Drª Margareth Chan, Directora Geral da Organização Mundial de Saúde, 18.03.2009
Ao longo dos tempos, as mais cruéis e bárbaras acções têm sido usadas relativamente a estas frágeis plantas da sociedade: as crianças. Só muito recentemente, com os avanços propostos principalmente pela civilização judaico-cristã, a criança passou a ser considerada, na sociedade, digna de amor, cuidado, protecção, educação, abrigo, alimentação, a crescer num clima de paz e fraternidade universais. Quando, em 1950, a Federação Democrática Internacional das Mulheres propôs às Nações Unidas a criação de um dia dedicado às crianças, não encontraram imediatamente acolhimento para a ideia que visava alertar para a precária condição da criança no mundo. Só em 1959 é que alguns países deram o apoio e aprovaram a Declaração Universal dos Direitos da Criança. No entanto, de todas as declarações universais, e entre todas as instituições agregadoras das nações em busca de consenso e actuação conjunta, esta tem sido, regularmente, espaço de incumprimentos. A UNICEF goza mesmo, em alguns sectores e sensibilidades, de uma conotação negativa, tendo-lhe sido constantemente amputados recursos para actuar em prol da dignificação da criança. Há 20 anos (em 1989, quando a declaração cumpria 30 anos de vida) a ONU aprovou a “Convenção sobre os Direitos da Criança”, com um conjunto de leis que expressam em 54 artigos a evolução do pensamento mundial sobre a condição da criança.
A exploração actual das crianças.
Assim, e aparentemente, existe um caderno de boas intenções que parece colher a concordância da maior parte das nações. No entanto, não é preciso ir muito longe, nem para países muito distantes, para percebermos que as boas intenções nem sempre deixam a letra do papel, para se tornarem em princípios de vida. A exploração da criança e a precarização das suas condições de vida assumem contornos antigos mas mais sofisticados e horríveis. Contra este flagelo, as sociedades são lentas nos processos de declaração de culpa, e ainda mais em conter os prevaricadores. A utilização das novas tecnologias permite hoje uma terrível, insuspeitável e desastrosa entrada no espaço de intimidade e reserva das crianças, com a exploração virtual por vários meios e com diferentes objectivos.Quando falamos de exploração (actual) das crianças, não nos devemos ficar pelos aspectos mais odiosos, mas sim olhar para todas as vertentes da questão. Existem formas de exploração socialmente aceites, que nos iludem relativamente ao nosso papel de defesa dos direitos das crianças.
Princípios da convenção sobre os Direitos da Criança
Princípio I – Direito à igualdade, sem distinção de raça, religião ou nacionalidade.
Princípio II – Direito a especial protecção para o seu desenvolvimento físico, mental e social.
Princípio III – Direito a um nome e a uma nacionalidade.
Princípio IV – Direito à alimentação, morada e assistência médica adequadas para a criança e a mãe.
Muitas m ães nem sequer sabem que o aleitamento materno é essencial.Princípio V – Direito à educação e a cuidados especiais para a criança física ou mentalmente deficiente.Princípio VI – Direito ao amor e à compreensão por parte dos pais e da sociedade.Princípio VII – Direito à educação gratuita e ao lazer infantil.Princípio VIII – Direito a ser socorrido em primeiro lugar, em caso de catástrofes.Princípio IX – Direito a ser protegido contra o abandono e a exploração no trabalho.Princípio X – Direito a crescer dentro de um espírito de solidariedade, compreensão, amizade e justiça entre os povos.
A criança: objecto actual de exploração financeira
Referimo-nos, principalmente, neste contexto, a dois aspectos: por um lado, as crianças são objecto de exploração através de uma série de produtos processados, cujo consumo lhes é induzido pela máquina de marketing, e cujo fabrico não está condicionado ao bem-estar da criança, mas sim ao lucro do mundo empresarial; por outro lado, aos estilos de vida que não favorecem o seu bem-estar, colocando as crianças à margem de um desenvolvimento harmonioso, conducente ao seu bem-estar presente e futuro, mas que novamente é fonte de lucro do mundo económico.
Infelizmente, muitos pais não têm tempo para se inteirarem daquilo que está a acontecer com os seus filhos, sendo depois surpreendidos negativamente quando uma doença crónica, como a diabetes tipo II, se declara. Cada vez mais crianças, com idades mais baixas, são portadoras desta doença e de outras perturbações que desqualificam a sua qualidade de vida, como directa consequência de serem objecto de exploração. Em antecipação à emergência de uma doença desta natureza está, na maior parte dos casos, uma alimentação errada que, associada à sedentariedade, conduz à obesidade infantil. É neste quadro que importa falar – muito concretamente – dos direitos das crianças. Talvez estejamos a vencer a batalha do trabalho infantil! Talvez se façam ouvir as vozes contra os maus tratos infligidos às crianças, aos níveis psicológico, físico, moral. Mas poucas vozes se ouvem em defesa do direito das crianças a uma alimentação correcta, a um estilo de vida saudável. Dizia-me recentemente uma colega, directora executiva de um ACES, que um pai lhe tinha solicitado que passasse uma declaração relativamente ao seu filho, para que não comesse sopa na escola (básica), pois “era alérgico à sopa”. Assistimos nas cantinas escolares à recusa sistemática de alimentos como vegetais, frutas e sopa, em detrimento de fritos, enchidos, carne e peixe. Longe do controlo dos pais, as crianças assumiram a sua afirmação no que gostam e não gostam de comer e de beber. As consequências são, assim, devastadoras para o seu bem-estar, comprometendo o seu futuro. Em Portugal, 31,5% das crianças entre os 9 e os 16 anos são obesas ou sofrem de excesso de peso. Esta situação é mais grave nos meios urbanos.Uma das consequências desta situação é a redução da esperança média de vida – previsões que já foram feitas. Aliás, nos países ocidentais, pela primeira vez nestes últimos anos, a esperança média de vida – ao contrário do que aconteceu durante décadas, em que se constatou o seu aumento sustentado – começa a dar sinais de inversão. Estas crianças irão viver menos tempo, com menos qualidade de vida do que os seus pais. É a sociedade a andar para trás!
Preocupados com a pandemia da gripe (como foi referido nesta edição noutras páginas), esquecemo-nos que a OMS considera a obesidade infantil uma epidemia mundial. As suas causas estão bem identificadas e a cura está estudada e documentada. Ela prende-se com os hábitos alimentares e a actividade física. A emergência de doenças cardiovasculares mais cedo na história de vida destas crianças, os efeitos da diabetes tipo II, os distúrbios da personalidade, consequência da auto-imagem, provocando uma dissonância cognitiva com o padrão prevalecente na sociedade de beleza (e magreza) são problemas esperados, mas que já hoje podem ser encontrados. Embora este seja um problema que caracteriza as crianças, ele é, no entanto, transversal a todas as idades: é estimado pela OMS que 2,7 milhões de mortes sejam causadas pelo baixo consumo de frutos e vegetais no mundo. E, para além destas, 1,9 milhões de mortes são causa directa de falta de actividade física.
Benefícios da Ho La para os seus filhos:
Tomar conta de uma horta aumenta a literacia em saúde e reforça o surgimento de várias competências nos seus filhos:
Responsibilidade – no cuidado e manutenção das plantas.
Melhor saúde – combate da obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares, asma (entre outras).Economia – a apreciação dos gastos da família em alimentação, e a comparticipação da horta do lar para diminuir esses gastos, permitirá à criança uma maior sensibilidade pela economia do lar, ajudando-a, assim, a ser uma melhor gestora de recursos financeiros. Estabeleça um “deve-haver” da horta, no qual coloca os gastos e os compara com os lucros obtidos, de modo a apontar soluções práticas e úteis para combater a crise económico-financeira. Se a sua família não foi afectada pela crise, proponha com o seu filho ajudar uma família necessitada com os produtos da sua horta. Isto faz crescer nele ...Sensibilidade/solidariedade social – para o drama dos outros, e menos queixas sobre a sua condição de vida.
Compreensão – aprendem da causa para o efeito (sem água as plantas morrem, as plantas têm competidores nas ervas daninhas
que é preciso retirar, etc.).
Auto-confiança – ao verem os seus objectivos cumpridos e apreciando a comida que fizeram crescer. Amor e respeito pela Natureza – com uma estação de compostagem, aprendem a respeitar o ciclo natural dos produtos na Natureza, aumentando a sua sensibilidade para menos desperdício.
Crescimento científico e raciocínio – aprendem sobre a ciência, botânica, nutrição, agricultura, controlo de pestes, gestão da água e seu ciclo, etc… Actividade física – é agradável e simultaneamente produtiva. Cooperação – trabalho de equipa e participativo. Criatividade – descoberta de maneiras novas e engraçadas de fazer crescer a comida. Nutrição – aprendendo sobre recursos naturais para comida fresca.

É possível sair da crise
A despeito de tão nobres e louváveis intenções, a verdade da nossa civilização é que a condição da criança continua a ser desprezada, podendo nós falar de uma CRISE que é pré-existente à crise de que tanto se fala por estes dias. Talvez também por isto seja ainda mais pertinente atentarmos para as soluções práticas que estão ao nosso alcance, já hoje – e não só num futuro distante – de modo a estabelecer prioridades para banir todas as formas de exploração infantil.
Soluções bem simples têm impactos de grande alcance, sem necessitar de tanto financiamento quanto outras medidas a ser tomadas actualmente.
As questões relacionadas com a alimentação emergem no topo da agenda, pois as consequências do que se faz pelas crianças são visíveis particularmente em dois extremos do mesmo contínuo: por um lado, a obesidade infantil e, por outro lado, as carências alimentares das crianças. Estas carências podem ser de dois tipos: involuntárias, como, por exemplo, a fome por escassez de alimentos; voluntárias, com a exclusão pró-activa de alguns alimentos da sua dieta, nomeadamente água, vegetais e fruta.
Quando são identificados problemas graves, deveríamos procurar soluções urgentes de modo a atacar imediatamente as suas consequências. Por esta razão, a S&L concentra-se, neste mês, em promover a condição da criança, focando duas soluções que estão ao alcance da sociedade, dos pais e familiares, das comunidades onde as crianças nascem, crescem e se desenvolvem. São soluções baseadas na evidência científica que revelam a sua pertinência em tempos de crise, para resolver uma CRISE persistente e de muito maior alcance.
Medida 1 de combate à obesidade infantil: a água
A história é muito simples: cada vez mais crianças preferem bebidas gasosas, com altos teores de açúcar, à água! Os consumos de água são, assim, baixíssimos e as crianças têm uma tendência natural para rejeitar o seu uso.
Preocupados com isto, investigadores na Alemanha envolveram 32 escolas num estudo aleatório controlado, em zonas carenciadas. Foram instalados bebedouros em 17 escolas, dadas quatro aulas sobre os benefícios da água. Estas escolas foram comparadas com um outro grupo de 15 escolas, onde nada disto se fez e se manteve o que já havia. Os 1641 alunos que foram alvo da intervenção foram comparados com os 1309 alunos que não receberam a intervenção. Depois desta intervenção concluiu-se que o risco de obesidade tinha diminuído 31% nos alunos no grupo experimental. Uma medida tão simples, como informar as crianças e disponibilizar água em bebedouros, baixou de modo impressionante o risco de obesidade. Com isto se demonstra, mais uma vez, algo que já se sabia: o papel da água no combate à obesidade.
Medida 2 de combate à obesidade infantil: Projecto HoLa
É comum ouvir-se as crianças a rejeitarem a ingestão de vegetais e frutas.
Num estudo envolvendo o desenvolvimento de uma horta, na Universidade de Saint Louis, liderado por Debra Haire-Joshu, directora do programa da universidade no âmbito da prevenção da obesidade, foi revelado que o crescimento de vegetais e frutas no contexto de uma horta de família, aumentava o seu consumo pelas crianças.
Mas o benefício de plantar uma horta com as crianças vai ainda mais além: de acordo com uma outra investigação, liderada por Jennifer L. Morris e Sheri Zidenberg-Cherr, do Departamento de Nutrição da Universidade da Califórnia, concluiu-se que as crianças não só aumentam os seus conhecimentos (a longo prazo relativamente à importância dos vegetais e frutos), como ainda ficam mais disponíveis para comer vegetais e frutas que não tenham sido plantados na sua horta. Este dado é muito importante, na medida em que demonstra a capacidade de mudança de percepção e atitude das crianças relativamente à ingestão destes alimentos. Assim se pode contrabalançar a preferência das crianças por alimentos refinados, fritos e alimentos processados, que têm uma influência directa no controlo do peso. 
Por outro lado, a sedentariedade e actividades que não exigem esforço físico são uma ameaça séria sobre o bem-estar das crianças (implicando no aumento de peso). Vários estudos vieram demonstrar que a plantação de uma horta do lar, em que a família se reúne e partilha de modo inter-geracional da mesma actividade, é um factor importante para o controlo da obesidade infantil, pois predispõe a criança para a prática de actividade física.
É neste sentido que a Agência de Saúde Pública do Canadá, apoiada por inúmeros estudos, propõe aos cidadãos que optem pela manutenção de uma horta do lar, facilitando assim a prática de actividade física das crianças.
Por isso siga as nossas sugestões e prepare uma horta (Projecto HoLa, Horta do Lar) com os seus filhos. Faça disso um passatempo agradável, de actividade familiar ao ar livre.
REGRAS DE SEGURANÇA ‹ seleccione o tamanho ideal (para começar, 4m2 podem ser uma boa aposta, depois de cuidados e mantidos, vá então acrescentando mais espaço mas sempre em negociação com as crianças);‹ proponha-se a uma agricultura orgânica, afastando do alcance das crianças sprays, fertilizantes ou outros;‹ não use químicos;‹ providencie um local seguro para a armazenagem dos utensílios da horta;‹ monte uma cerca e uma pequena porta;‹ no Verão e dias de sol, providencie sombra;‹ proponha às crianças o uso de botas, protector solar, chapéu e roupas adequadas à estação;‹ tenha cuidado com bacias e outros contentores de água se tiver crianças de pouca idade, pois sendo atraídos pela água podem afogar-se.
Como envolver as crianças na HoLa
Mantenha o projecto simples e pequeno (por exemplo, a estação de compostagem pode ter 50cm de diâmetro, feita com uma rede de galinheiro com a altura do seu filho mais pequeno).
• Dê às crianças o seu espaço próprio para a HoLa, escolhido por elas e do tamanho que desejam.
• Envolva-se (seguindo as instruções do seu filho) e envolva os amigos dele (não num papel de subserviência mas de cooperação mútua), no desenho da horta e decisão do que semear e plantar.
• Procure ferramentas de jardim do tamanho das crianças, leves e fáceis de usar.
• Encoraje as crianças a cavar no lixo, na lama. As crianças adoram mexer na lama.
• Faça crescer plantas interessantes, como girassóis, milho, abóboras, tomates.
• Plante flores que atraem borboletas, pássaros e outros insectos.
• Construa espantalhos.
• Instale um relógio do sol, ou pequeno alguidar com água, para os pássaros se banharem.
• Ponha em marcha um canteiro de crescimento de minhocas.
• Visite outras hortas e jardins para retirar ideias.

Luís Nunes

Sociólogo da Medicina e da Saúde Mestre em Saúde Pública

21.11.13

PEQUENOS ESQUECIMENTOS



esquecimentoEm geral, a partir dos 30 anos, começa a notar-se que há pequenos esquecimentos. “Como é que se chama aquele futebolista que é casado com aquela modelo tão gira? Sim, mulher! Aquela alta de cabelo escuro que desfilou há dias... vimos o programa na televisão... Sabes a quem me refiro?” Mas isso nada é se comparado com a altura em que exclamamos: “Roubaram-me o carro!” sem nos darmos conta de que estamos no parque de estacionamento errado.
Embora estes pequenos esquecimentos não afectem por aí além a nossa vida diária, provocam-nos ansiedade.
Com pavor, pensamos que o cérebro começa a converter-se em gelatina e preocupa-nos o facto de acabarmos como a avó, que recorda, detalhadamente, cenas da sua infância, mas não se consegue lembrar do que deveria fazer ou o que tinha feito aquela mesma manhã.
Se isto lhe parece familiar, não se preocupe, pois ainda há esperança.
Existem muitos mitos em que as pessoas relacionam, erradamente, a idade com a falta de memória.
Os cientistas provaram que a perda de memória de curto prazo não se deve à idade ou ao facto dos neurónios terem morrido e não se regenerarem, mas à redução do número de conexões dos neurónios ou dendritos (as ramificações dos neurónios) entre si. Isso acontece por uma simples razão: falta de uso. É muito simples: assim como se atrofia um músculo que não se utiliza, se os dendritos não se conectarem com frequência, também eles se atrofiam e a capacidade do cérebro para acumular nova informação reduz-se.
Não há dúvidas, o exercício ajuda a “reforçar” a mente; também existem produtos naturais que fortalecem a memória.
Contudo, não há nada como fazer com que o nosso cérebro fabrique o seu próprio alimento: as neurotrofinas.

As neurotrofinas...
… são moléculas que produzem e segregam as células nervosas e actuam como alimento para as manter saudáveis. 
Quanto mais activas estiverem as células do cérebro, maior quantidade de neurotrofinas produzem, e isto reforça as conexões entre as várias áreas do cérebro.

Ginástica para os neurónios
O que precisamos é de fazer “ginástica” com os neurónios. 
√ Surpreendê-los,
√ tirá-los da sua rotina,
√ apresentar-lhes novidades inesperadas e divertidas através das emoções, do olfacto, da vista, do tacto, do gosto e do ouvido.
O cérebro torna-se mais flexível, mais ágil e a sua capacidade de memorizar aumenta.
É provável que pense: “Eu leio, trabalho, faço exercício e mil coisas mais durante o dia, portanto, a minha mente deve estar muito estimulada.” O certo é que a vida da maioria de nós passa-se dentro de uma série de rotinas.
Analise um dia comum e corrente. Quão diferente é a sua rotina da manhã, a sua viagem até ao trabalho, a hora em que come ou regressa a casa? O tempo que passa no carro? Os programas que vê na televisão?
As actividades rotineiras são inconscientes. Fazem com que o cérebro funcione mecanicamente e requerem um mínimo de energia. As experiências passam pelas mesmas estradas neuronais já formadas. Não há produção de neurotrofinas.
Para criar novas conexões neuronais, porque não abrirmos a mente e experimentarmos os exercícios das caixas que aqui temos, que, de acordo com os estudos de Neurobiologia do Duke University Medical Center, ampliam a nossa memória? Assim, talvez nunca mais voltemos a perguntar: “Onde é que deixei as chaves.
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Ginástica para os neurónios
Apresentamos aqui alguns exercícios que potenciam substancialmente os dendritos e a produção de neurotrofinas:
1. Tente, pelo menos uma vez por semana, tomar duche com os olhos fechados. Só com o tacto, localize as torneiras, ajuste a temperatura da água, procure o sabão, o champô ou o creme de barbear. Verá como as suas mãos notarão texturas que nunca tinha percebido.
2. Utilize a mão não dominante. Coma, escreva, abra a porta, lave os dentes, feche a gaveta com a mão que utiliza menos.
missing image file3. Leia em voz alta. Activam-se circuitos diferentes daqueles que usa para ler em silêncio.
4. Mude as suas rotas. Tome outros caminhos para ir para o trabalho ou para regressar a casa.
5. Modifique a sua rotina. Faça coisas novas. Saia, conheça e converse com pessoas de diferentes idades, trabalhos e ideologias. Experimente o inesperado. Use as escadas em vez do elevador. Vá para o campo, caminhe, feche os olhos e sinta o seu aroma, os seus sons, os seus silêncios.
6. Altere o sítio de alguns objectos. Ao saber onde está tudo, o cérebro já construiu um mapa. Mude, por exemplo, o caixote do lixo, e verá a quantidade de vezes que atira o papel para o lugar anterior.
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7. Aprenda uma nova habilidade. Qualquer coisa: fotografia, cozinha, estude uma nova língua... se gosta de fazer quebra--cabeças ou modelismo, tape um olho para que perca a percepção da profundidade; assim, o cérebro terá de confiar noutras vias.
8. Identifique objectos, como, por exemplo, moedas. Ponha, no carro, uma taça com várias moedas diferentes e tenha-as à mão para, enquanto estiver parado no semáforo, com os dedos, tentar identificar cada uma delas.


in Saludcuatro

16.11.13

QUEM É O ADOLESCENTE?

É um ser humano em transformação vertiginosa.
Deixa de ser criança, mas não é adulto.
O corpo transforma-se de dia para dia.
O relógio genético faz surgir características específicas do sexo a que se pertence.
Sente novas e diferentes emoções.
Os seus interesses e gostos modificam-se.
Passa a ser responsável por fazer escolhas e tomar decisões.
Qual será o seu futuro?
O que deseja ser?
O início da adolescência assinala o culminar de uma década de desenvolvimento fundamental que começou com o período Pré-natal.
Inicia-se agora uma viagem em direção à longínqua idade adulta.
Adolescência é o período, mais ou menos longo, que separa a infância da idade adulta.
O adolescente oscila entre dois pólos:
Deixar de ser criança
Tornar-se adulto
A sua marca própria é ser simultaneamente criança e adulto. É uma pessoa em vias de se tornar adulto nos planos sexual, emocional e intelectual.
Mantém-se criança socialmente, porquanto continua a ser menor e dependente, e é incapaz de se “separar” dos laços familiares ou prescindir deles sem efeitos secundários.
Ainda criança... é já adulto, perdeu o equilíbrio da primeira (a criança) e ainda não atingiu o equilíbrio do segundo (o adulto).
Quando o acesso à profissão é tardio ou adiado, prolonga-se o período de dependência – o período da adolescência.
Neste contexto, é inevitável a crise; daí catalogarem este período como: idade ingrata; crise; crise da originalidade juvenil...
Paradoxalmente, esta fase assim caracterizada é o sinal de uma evolução normal; a sua ausência é que é preocupante.

Marcos significativos das diferentes idades:
10 anos – caracteriza-se por figura equilibrada, em boa forma física e psicológica – normalmente está satisfeita consigo própria.
11 anos – surgem sinais de mudança. Novos esquemas e dinamismo de comportamento. O adolescente começa a exibir comportamentos de afirmação, curiosidade e sociabilidade. Torna-se desassossegado, inquieto, perguntador e falador. Gosta de estar em movimento e em constante atividade. Tende a imitar os adultos.
A vida emocional alcança picos de intensidade. Encoleriza-se de um momento para o outro, são típicas as oscilações de humor; de manhã apático e resmungão, à tarde alegre e animado.
Acelera-se o desenvolvimento físico, as temperaturas oscilam e fatiga-se com facilidade.
12 anos – Revela maior amadurecimento nas relações sociais, tem em conta o ponto de vista do grupo. Gosta de exercitar a inteligência. Manifesta entusiasmo por trabalhos de grupo.
O jovem de doze anos é entusiasta, tem espírito de iniciativa, gosta de se relacionar com os outros.
13 anos – Surgem os problemas da maturação. O jovem torna-se menos comunicativo. Revela grande capacidade para aquisição de conhecimentos. Entrega-se a preocupações íntimas. Desenvolve o espírito crítico. Dá-se à reflexão. É um ano de transição que envolve: corpo, mente e personalidade.
14 anos – Mais consciente de si e do seu ambiente interpessoal. O jovem interessa-se pelas outras pessoas e tem cada vez mais consciência das diferenças de personalidade, fazendo comparações. Interessa-se por atividades de grupo, mostrando-se sensível a quaisquer desvios da norma do grupo.
Gosta muito de falar, está cheio de vida e transborda de energia, exuberância e expansividade. É otimista.
15 anos – Maior consciência de si. Maior espírito de independência. Maior ajustamento aos grupos: lar / escola / comunidade.
16 anos – Integração mais ampla e equilibrada, maior confiança em si. Sentimentos mais profundos de independência.

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Características que tipificam o fim do período da adolescência: 
1. Redefinição da imagem corporal.
2. O culminar do processo separação / individuação; dependência / autonomia.
3. Autonomia aqui não significa ficar desconectado emocionalmente dos pais, mas significa, na verdade, que um indivíduo já não é tão dependente dos pais em termos psicológicos, e tem mais controlo sobre a tomada de decisão da sua vida (e arca com as respetivas consequências).
4. Perda da condição infantil.
5. Estabelecimento de uma escala de valores ou código de ética próprio.
6. Ingresso no “status de adulto” (com ritos de iniciação em algumas culturas).
7. Assunção de funções e papéis sexuais.
8. Exercício de uma atividade profissional.
Os pais devem manter-se atentos e abertos ao diálogo, afetuosos e reguladores.

Isabel Morais
Psicóloga – Área Social Clínica – Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação de Lisboa

Associação Família Amiga

Afinal onde está o cálcio para os meus OSSOS?

Introdução
Muito se tem discutido e dito sobre as doenças dos ossos que afetam hoje um número crescente de pessoas nas sociedades ocidentais. A osteoporose tem sido apontada como uma das doenças da civilização. Além de debilitante, é uma patologia que se vai agravando com a idade.
Assim, procurar mecanismos para fazer face a esta patologia, quer pela sua prevenção, quer pela minimização dos seus efeitos através de uma recuperação da massa óssea, constitui uma problemática de elevada relevância.
Estamos habituados à publicidade que aponta para os produtos lácteos (nomeadamente o leite) como a panaceia milagrosa para resolver este problema. Existem mesmo leites enriquecidos com “cálcio” nas estantes dos supermercados que pretendem, de modo mais concludente, levar-nos a optar pela sua compra e uso.
Existem, associados ao consumo de produtos lácteos, vários problemas graves como sejam o cancro dos ovários, a obesidade, o cancro da próstata, a intolerância à lactose, as doenças do foro cardiovascular (e a lista poderia continuar). Estas consequências deveriam ser seriamente tidas em conta quando se pretende obter cálcio a partir destas fontes.
Mas não é só pelas consequências negativas que podem ser enumeradas que os adultos deveriam abster-se de consumir produtos lácteos, quando o objetivo é procurarem o cálcio de que necessitam. Existem outras razões, sendo que a mais relevante é que os produtos lácteos não só não são uma boa fonte de cálcio, como ainda eles próprios atentam contra a assimilação de cálcio pelo organismo. Isto é: mesmo o pouco cálcio que os produtos lácteos poderiam fornecer ao organismo é comprometido pela própria composição desses produtos lácteos.
Porquê? Por uma razão muito simples: a proteína animal provoca uma excreção de cálcio pela urina. Assim, uma pessoa que não consome produtos de origem animal pode finalmente precisar de menos cálcio (com melhores resultados de retenção do mesmo) do que uma pessoa que, consumindo produtos de origem animal, vê uma parte substancial do cálcio que ingere ser eliminada antes de ter a possibilidade de ser assimilada.
Ora, o aspeto relevante a ter em conta é, então, procurar a melhor fonte de cálcio. Sabe-se hoje que a couve e outras verduras, como os brócolos, são riquíssimas fontes de cálcio e que este cálcio tem um teor elevado de absorção pelo organismo. Novamente: não é tanto a quantidade que nos deveria levar a tomar decisões quando a questão da absorção de cálcio está em causa, mas é antes a qualidade dessa absorção.
Repare que existem elevados teores de cálcio em vários alimentos que não provocam efeitos negativos no organismo e que são de fácil absorção (Amêndoas: 1/3 de uma chávena tem 50mg; pasta árabe de grão-de-bico: meia chávena tem 81mg; quinoa (cereal andino): uma chávena tem 50mg; 2 colheres de sopa de tahine (pasta de gergelim) tem 128mg).
E os exemplos poderiam prosseguir. 
Importa, no entanto, salientar que, para uma boa alimentação e absorção de cálcio, nada consegue igualar o consumo de couve e outros vegetais de cor verde escura. Por isso, faça deles uma presença regular na sua alimentação, que, associados ao sol e à atividade física, permitirão uma melhor assimilação desta importante componente para a saúde dos seus ossos.

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Tenha couve quase o ano todo!
A Couve
Couve é o nome dado genericamente a uma grande variedade de plantas herbáceas (Brassica sylvestris) que, ao longo dos séculos, têm sido apuradas e apreciadas na gastronomia no mundo inteiro. A couve faz parte do grande grupo das crucíferas – legumes que se distinguem pela forma da sua flor em cruz (entre outros, os nabos, os brócolos, a couve-flor, a couve-de-Bruxelas, a couve-vermelha, o rabanete), oferecendo ao consumidor produtos variados e de sabores diversos.
Derivadas de uma planta brava nas encostas da Mancha, as couves têm um elevado potencial nutritivo que deve ser considerado na alimentação. Ingrediente usual da dieta mediterrânica, a couve tem aplicações diferentes e é de simples plantio e manutenção.
Facilmente se planta em casa, numa varanda, cozinha, sala, podendo desempenhar um papel decorativo ao mesmo tempo que pode ser usada na alimentação.
Este é um legume presente em todas as estações do ano. São de maior procura a couve de sete semanas (que faz parte integrante da ceia tradicional do Natal português), a couve portuguesa (com a qual se faz o caldo verde), a couve coração-de-boi (de folha lisa) e a couve de folha frisada,
denominada vulgarmente por lombarda.

Outras espécies de couve:
1) Couve-repolho (com um grande olho)
Existem três famílias de couve-repolho: as couves de folhas lisas, de folhas empoladas e as couves de tonalidade vermelha (couves-roxas). Podem ser cozidas ou comidas em salada (se a sementeira for de março a maio, com uma ou duas transplantações de espera, com disposição na terra entre abril e junho, permite um consumo desde o fim do verão até ao início do inverno).
2) Couve-de-Bruxelas (com olhinhos ou rebentos)
Estes olhinhos, que se formam no ângulo das folhas sobre o caule, dão a esta couve um aspeto muito decorativo. Podem ser consumidos a partir do outono até à primavera. As hastes florais em botão podem ser comidas cozidas.
3) Couve-flor
Consome-se a inflorescência branca hipertrofiada antes do aparecimento das flores. Podem ser couves-flor banais ou couves-flor tardias, designadas por brócolos.
4) Couve verde ou couve portuguesa ou, ainda, couve-penca 
Não forma repolho; são comidas as folhas. Tempo indefinido de produção (por vezes bianual). Caule ereto, longo, com folhas grandes, coreáceas, coloração verde-claro a escuro conforme a variedade, pode atingir cerca de 60cm a 1,5m de altura. Pode ser ondulada e dentada na borda, podendo formar cabeças na parte superior quando se prepara para florir. As flores são brancas ou amareladas, pequenas, seguidas de fruto.
As folhas têm sabor forte, sendo consumidas cozidas em diversos tipos de receitas.
5) Couve-Rábano
Com caule hipertrofiado em bola, não tem folhas.
6) Couve-nabo e nabo-da-Suécia
Com raiz muito grossa, a sua polpa é branca, enquanto a do nabo-da-suécia é amarela. Consomem-se
cozidas, como os nabos, nas sopas ou em “choucroute”.

missing image fileUma HoLa em terra
Terreno para cultivo de 10m2 (5x2m), divido em 12 partes iguais.Todos os meses, veja a sua HoLa a crescer!
Espaço extra para a estufa (1x1m), a estação de compostagem e para arrumação dos utensílios.
Preparar
A preparação da terra para a plantação da couve passa por uma lavra em profundidade (35cm) na primavera. Os solos preferenciais são, assim, profundos, de textura média ou argilosos desde que bem drenados.
Como não é sensível ao frio, a geadas e ao excesso de chuva, a couve resiste bem aos rigores do clima português, o que permite ter couve quase ao longo de todo o ano, quer semeando quer plantando em terreno definitivo.

Semear
As couves reproduzem-se por semente.
É económico deixar florescer uma única das couves que cresceram num vaso na varanda ou em terra na horta, e colher as pequenas vagens quando já estão secas, a fim de aproveitar as sementes que elas contêm.
Algumas sugestões aquando da sementeira:
Nos finais do mês de agosto, pode ser feita uma sementeira diretamente no solo, tendo a precaução de misturar a semente com areia ou terra leve, a fim de que, quando lançada à terra, se criem espaços entre cada semente e, desta forma, cada germinação tenha possibilidade de se desenvolver livremente.
Caso a germinação seja ainda muito densa, nos finais do mês de setembro, quando a planta já tem três ou quatro folhas, poderá simplesmente arrancar alguns pés, eliminando-os ou transplantando-os para outra faixa do solo que esteja disponível para o efeito. Esta sementeira dar-lhe-á couve em abundância para os dias frios do inverno e ainda durante a primavera.

Plantar

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Em qualquer época do ano a sementeira pode ser feita em leiras, bem como a transplantação como atrás se refere, tendo o cuidado de enterrar a planta até à altura das primeiras folhas, deixando um espaço de 35cm entre cada uma delas.
Não dispondo de sementeira própria, merecerá ainda a pena comprar plantas nas casas de horticultura, e transplantar.
A couve gosta de terras profundas, fortes, frescas, e prefere climas ou épocas húmidas.
Tanto na sementeira como no transplante, proceder sempre ao enriquecimento do solo com estrume orgânico.
Couve todo o ano: exemplo – couve-de-Bruxelas. No entanto, este exemplo pode ser aplicado a outras couves (como a couve portuguesa, que pode ser semeada em agosto, por exemplo, para colher em dezembro).

Colheita
Sementeira
Plantação Disposição definitiva
setembro
Em terra quente/livre: fevereiro-março. Uma transplantação de espera em março-abril.
abril-maio
outono e inverno
Março-abril em terra livre.
Uma transplantação em abril-maio.
maio-junho
inverno-primavera
Em maio-junho com boa exposição ao sol. Uma transplantação em junho-julho.
julho
Cuidar
• Quinzenalmente, picar a terra em volta de cada planta (sachar), evitando o crescimento de ervas daninhas, e arejando o solo. Evitar esta sacha, se o solo estiver demasiado húmido.
• Arrancar as primeiras folhas do pé da planta quando esta cresce e aquelas que se apresentam amarelas.
• Nos meses de calor, regar abundantemente pelo menos duas a três vezes por semana.
• Ter o cuidado de semear flores de cores vivas em volta da horta; as joaninhas serão atraídas e ocupar -se-ão de eliminar o pulgão e outras moléstias que prejudicam o bom desenvolvimento da planta.
• A couve resiste muito bem ao frio e às geadas.
Colher
• A colheita da couve acontece sempre que dela se necessite, ao longo do ano, e segundo o provimento da horta que se cultivou.
• Para o caldo verde, colhem-se apenas algumas das folhas à volta da planta, do que resultará haver sempre provimento de novas folhas para consumo.
• As restantes espécies de couve poderão ser colhidas mesmo antes de atingirem o seu tamanho normal. Estas couves jovens são as melhores. Devem, no entanto, ser pesadas em relação ao seu tamanho, i.e., pequenas mas pesadas, e as folhas que estão à volta devem ser duras e verdes.

Cozinhar


Nutrir
No que concerne à sua riqueza em nutrientes essenciais, convém lembrar de que o aporte em vitamina C é comparável ao do limão, contém vitaminas do complexto B, que permitem ao organismo a assimilação do açúcar e das gorduras, e uma importante quantidade de vitaminas K, anti-hemorrágicas. Sem esquecer também o cálcio, o ferro, o magnésio e o enxofre, minerais que contribuem para a estabilidade de uma vida saudável.
Para mais informações nutricionais ver: Porto A, Oliveira L. Tabela da Composição de Alimentos. Lisboa: Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. 2006.
Sugestões e Soluções
A couve tem sido designada como o médico do povo por boas razões. A ingestão de couve diariamente é uma boa prática curativa e preventiva e, durante centenas de anos, vários grupos humanos fizeram dela justamente uma preferência (descrições pormenorizadas dos egípcios e romanos atestam para isso).A couve é, para além da sua riqueza nutricional, um bom anti-inflamatório, antibiótico e anti-irritante natural. Alivia a prisão de ventre, a má disposição, cura ou alivia a dor de úlceras gástricas (uma das receitas nestas situações é sumo de couve durante 8 dias). Para além disto, em situação de cortes ou feridas, a aplicação de uma folha de couve permite uma cicatrização rápida.Para as mães que amamentam e possam ter dores e inchaços, a aplicação de caules de couve abertos
e dos veios das folhas permite aliviar essas situações.
No inverno, o papel da couve é muito relevante, pois previne e cura constipações e gripes. É uma fonte muito rica de vitamina C ao ser consumida crua (em sumo, por exemplo, um copo pela manhã).
A couve cozinhada perde quase metade da sua vitamina C. A aplicação de cataplasmas de folha de couve crua na testa de doentes com febre tem-se revelado eficaz no combate às temperaturas altas. É notável a experiência da Universidade de Seul, na Coreia do Sul, em que aves contaminadas pela gripe do vírus das aves recuperaram após uma semana de tratamento com couve-chinesa (11 em 13 dos animais). Estes dados ajudam-nos a perceber melhor o papel que a Natureza pode desempenhar perante os medos civilizacionais da atualidade (como foi o da gripe A de há algum tempo atrás).
A couve tem desempenhado um papel relevante no tratamento e mesmo na prevenção de certos tipos de cancro, como sejam o do cólon, da mama e dos ovários, pela estimulação hormonal e metabólica que induz.A couve tem um papel relevante na recomposição mineral da massa óssea, sendo um aliado fundamental no combate à osteoporose. Além disso, contribui para a saúde dos dentes, do sangue, dos olhos, da pele e dos aparelhos digestivo e nervoso.Combate a asma, a bronquite, as doenças do fígado e os cálculos biliares. No caso de hemorroidas, a aplicação de folha de couve amassada e de sumo de couve crua no local dorido alivia as dores e, associada a uma alimentação equilibrada, ajuda a superar as crises de hemorroidas. No combate à artrite e dores reumáticas, a aplicação de folhas de couve cozidas ainda quentes nas zonas doridas traz alívio.
Luís NunesSociólogo da Medicina e da Saúde; Mestre em Saúde Pública

Fome Oculta


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Em muitas sociedades é verificado um padrão dietético com alto conteúdo de gorduras totais, colesterol, açúcar refinado e baixo teor de fibra alimentar. Assim sendo, nos últimos anos, a deficiência de vitaminas e minerais (micronutrientes) na alimentação está a ganhar importância como problema de saúde pública em relação à deficiência de macronutrientes,
a saber, proteínas, hidratos de carbono e lípidos. Tal facto tem vindo a chamar a atenção dos profissionais
e das autoridades de saúde em todo o mundo. O termo “fome oculta” é aplicado para definir essa carência não explícita de um ou mais micronutrientes.

O défice de vitaminas e minerais é, infelizmente, mais comum do que se pode pensar. A fome oculta pode atingir qualquer pessoa, independentemente da classe social ou do estágio da vida. Basta que a alimentação seja inadequada em quantidade e qualidade nutricional. Estudos epidemiológicos realizados têm mostrado elevada prevalência de deficiência de vitaminas e minerais em populações com baixa proporção de desnutridos.
Alimentação desequilibrada
Tem sido constatado que a alimentação das pessoas, em especial daquelas que moram em centros urbanos, é geralmente pobre em frutas, verduras, legumes e cereais. Por outro lado, é alto o teor de gordura e açúcar encontrado em doces, fritos e refrigerantes, alimentos consumidos com frequência elevada. Embora esses alimentos apresentem alto valor energético, são pobres em micronutrientes, facto que pode ocasionar a deficiência de certas vitaminas e minerais indispensáveis ao funcionamento adequado do organismo.A título de exemplo (veja quadro), pode ser observada a diferença entre os valores nutricionais do açúcar refinado, produto que apresenta consumo elevado, tanto por já estar incluído industrialmente nos alimentos como por ser adicionado pelo consumidor, e os valores nutricionais do açúcar mascavado, produto não refinado e de baixo consumo.Pode ser notado que o açúcar mascavado possui teores de ferro, cálcio e fósforo superiores aos contidos no açúcar refinado, o qual apresenta maior teor de hidratos de carbono e energia. Sob o aspeto nutricional, o açúcar mascavado é uma boa alternativa para a substituição do açúcar refinado, o qual apresenta alto teor energético, sendo nulo nos outros nutrientes indispensáveis à saúde.
Composição nutricional do açúcar refinado e do açúcar mascavado
Açúcar refinadoAçúcar mascavado
Energia (kcal)398,0356,0
Hidratos de carbono (g)99,590,6
Proteínas (g)ZERO0,40
Lípidos (g)ZERO0,50
Cálcio (mg)ZERO51,0
Ferro (mg)ZERO4,2
Fósforo (mg)ZERO44,0
Fonte: Franco, G., Tabela de Composição de Alimentos, 1987
Apesar do défice de micronutrientes da alimentação, a ausência de tempo para realizar as refeições leva muitas pessoas a suprimi-las, em especial o pequeno-almoço, ou quando o fazem é de maneira desequilibrada, bebendo café com açúcar refinado, acompanhado de pão branco com margarina. Frutas, cereais integrais, açúcar mascavado e outros alimentos contendo vitaminas e minerais são deixados de lado. Desse modo, as fontes de micronutrientes não são geralmente consumidas nessa refeição.Outro momento onde o tempo é escasso é o almoço, feito à pressa e com escolhas que deixam a desejar. Sandes e batata frita são ingeridas vorazmente, muitas vezes no próprio ambiente de trabalho. As refeições desse tipo são extremamente pobres em vitaminas e ricas em calorias e gordura. O jantar acaba por complementar o desequilíbrio nutricional do dia, seja pelo cansaço, seja por reuniões e outras atividades realizadas no período noturno. A conclusão lógica é que as refeições práticas, como pizzas e pratos congelados levam ao desequilíbrio nutricional.
O risco das crianças
A prática da alimentação pobre em vitaminas e minerais tem sido observada também entre os adolescentes. Um estudo recente envolvendo 234 adolescentes apontou que apenas 11,3% consumiam frutas e verduras regularmente. Para complicar a situação, 81,7% dos adolescentes participantes disseram acreditar, erroneamente, que o seu consumo de frutas e verduras era saudável.A perceção errada quanto às características da alimentação saudável e o baixo consumo de frutas e verduras classificam os adolescentes como um grupo de risco, exigindo atenção especial para a promoção de hábitos alimentares saudáveis e garantia de qualidade de vida.Nesse ponto, é importante considerar também as crianças, que aprendem a copiar o comportamento dos adultos. Se a ingestão alimentar dos pais é deficiente em vitaminas e minerais, a delas tenderá a sê-lo igualmente. A questão é que, no caso das crianças, as deficiências de micronutrientes podem trazer sérias e duradouras consequências à saúde nas fases futuras da vida.Além de apresentar cansaço e fraqueza devido à má utilização de energia pelos músculos, as crianças podem apresentar alterações comportamentais e cognitivas e ter o crescimento prejudicado. Também pode haver aumento no aparecimento de doenças como infeções respiratórias e diarreias. Adicionalmente, muitas crianças apresentam deficiências de vários micronutrientes simultaneamente, o que torna a situação mais grave.
missing image filemissing image filemissing image filemissing image fileOnde encontra as vitaminas de que precisa
AB1B2B3B5B6EÁcido FólicoBiotinaKC
CenouraAveiaAmendoimTrigoSojaAveiaNozesCouveSojaCouveLaranja
AbóboraArrozAveiaErvilhaErvilhaTrigoCastanha-do-paráBrócolosCouve-florAcerola
BrócolosMilhoArrozBananaFeijão-verdeArrozAmêndoasAcelgaBrólocos
Goiaba
NaboTrigoMilhoLentilhaAbacateMilhoCereais
integrais
FeijõesAgriãoManga
Batata-doceSojaTrigoBatataBatata-doceBatataCouveLentilhaTomateMorango
MelanciaCenouraBananaEspinafreCogumelosCouveBrólocosArrozRepolhoAbacaxi
MelãoLeguminosasBrócolosNozesAlfaceRúculaTrigoEspinafreCaju
LaranjaAmendoimAcelgaAveiaAlfaceBrólocos
TomateRúculaMilhoCenouraCouve
CouveAgriãoErvilhaErvilha
RepolhoTrigoBatata
SojaAveiaMamão
Milho
Banana
Esta relação é parcial

missing image filemissing image fileOnde encontra os minerais de que precisa
CálcioFerroFósforoMagnésioZinco
Gergelim
Soja
Couve
Brócolos
Espinafre
Acelga
Rúcula
Agrião
Repolho
Açúcar mascavado
Trigo integral
Arroz integral
Aveia
Grão-de-bico
Amêndoas
Soja
Passas de uva
Açúcar mascavado
Espinafre
Açaí
Espinafre
Trigo integral
Aveia
Arroz
Lentilha
Grão-de-bico
Feijão
Gergelim
Castanha-de-caju
Castanha-do-pará
Ameixa preta
Castanhas
Amêndoas
Arroz integral
Trigo integral
Aveia
Soja
Feijão
Ervilha
Lentilha
Couve
Brócolos
Espinafre
Rúcula
Acelga
Castanhas
Amêndoas
Arroz integral
Trigo integral
Aveia
Soja
Feijão
Ervilha
Lentilha
Castanha-do-pará
Trigo integral
Aveia
Arroz integral
Milho
Soja
Feijões
Lentilhas
Esta relação é parcial
Combate à fome oculta

Como avaliar a qualidade da alimentação? Realmente, não é tarefa fácil, nem para os nutricionistas. Vários indicadores da qualidade da dieta têm sido propostos desde a década de 80. Uma das formas de executar essa avaliação reside no cálculo do Índice de Qualidade do Alimento (IQA), que expressa a relação entre o conteúdo de um nutriente específico no alimento, ou na dieta, e as recomendações nutricionais para esse nutriente em 1000 calorias. Esse indicador oferece condições para estudar o valor nutricional de um alimento, uma refeição ou alimentação.
Mais recentemente, foi proposto um indicador mais prático, inclusivamente para os leigos: Índice de Qualidade da Alimentação (Healthy Eating Index), o qual foi apresentado pela American Dietetic Association como sendo adequado para medir a qualidade global da alimentação de uma população.
Estima-se que a prevenção da fome oculta pode aumentar em até 5% o Produto Interno Bruto (PIB) de uma nação. Adicionalmente, a eliminação da fome oculta pode prevenir 4 em cada 10 mortes infantis e reduzir a mortalidade materna em mais de 30%.
Dessa forma, é de extrema importância o desenvolvimento de estratégias específicas contra a resistência às modificações dietéticas. A melhor solução é adotar hábitos saudáveis e manter uma alimentação equilibrada.
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Tratando-se de indivíduos vegetarianos, apesar da grande quantidade de frutas e verduras, ricas em micronutrientes, o alto teor de fibra pode reduzir o aproveitamento destas pelo organismo. Um outro aspeto importante é que elementos como o cálcio, o zinco e também as vitaminas B12 e D podem apresentar deficiência, em especial nos vegetarianos restritos, ou seja, nos que evitam qualquer produto derivado de animais, como leite e ovos. Assim, algumas instruções são necessárias para evitar a fome oculta em quem é adepto do vegetarianismo (veja quadro).

Késia Diego Quintaes
Doutorada em Alimentos e Nutrição

Recomendações dietéticas para vegetarianos e ovolactovegetarianos
Grupos alimentares
Recomendações
Cereais integrais
Trigo, milho, aveia e arroz
Usar alimentos produzidos com cereais integrais, como
a farinha de trigo integral e o arroz integral.
Leguminosas
Lentilha, ervilha, feijão, etc.
Produtos de soja
Tofu, bebidas e proteína texturizada
Usar “leite” ou extrato de soja fortificado com cálcio, ferro, vitamina D e vitamina B12.
Vegetais
Todos
Usar folhas verdes e vegetais amarelos. Ingerir tanto na forma crua como cozida.
Frutas
Todas
Preferir fruta inteira ou sumo desta.
Nozes e sementes
Amêndoas, nozes, amendoim, castanha-do-pará, gergelim, semente de abóbora e girassol, etc.
Comer nozes e sementes cruas, tostadas ou em preparações alimentares como a manteiga de amendoim e o tahine (creme de gergelim).
Óleos vegetais
Azeite, gergelim, canola, milho
Dar preferência aos que apresentam alto teor de ácidos gordos monoinsaturados.Limitar o consumo de gordura de coco e de palma.Evitar o consumo de gordura vegetal hidrogenada.
Leite e derivados
Ênfase nos produtos com baixo teor de gordura ou isentos desta.No caso de indivíduos que são vegetarianos restritos (vegans): verificar se a ingestão diária de cálcio, zinco, vitamina D e vitamina B12 é adequada. Caso contrário, podem ser necessários suplementos.
Ovos
Limitar o consumo a quatro unidades por semana.
DocesMel, xarope de milho, açúcar refinado, açúcar mascavado, adoçantes, geleias
Comer com moderação.
Fonte: Adaptado de Haddad et al., Am J Clin Nutrician, 1999