22.7.13

DOENÇA DE ALZHEIMER

SAUDE / S&L SETEMBRO 2008  
Alzheimer
Há muitos anos o meu pai saiu de casa para jantar com uns amigos, mas nunca chegou lá. A nossa família passou uma noite em claro a tentar encontrá-lo ou a alguém que soubesse onde ele se encontrava. Só no dia seguinte é que a minha mãe recebeu um telefonema da polícia de uma cidade a várias horas de distância, dizendo que o meu pai estava em segurança e que a família o podia ir buscar.
E só o conseguimos recuperar devido à bondade do dono de uma estação de serviço. Quando o meu pai parou para abastecer o carro, o dono da estação de serviço reparou que ele não estava bem, tirou-lhe as chaves do carro e encaminhou-o para a polícia. No banco do carro encontrámos uma multa que lhe tinha sido passada nessa noite por guiar em contra-mão na auto-estrada.
Uns anos mais tarde, a ligação da minha mãe com a realidade começou também e esvair-se. Já não se conseguia lembrar de coisas comuns, tais como o dia da semana ou porquê vivia numa comunidade de reformados – embora tivesse sido ela a querer mudar-se para lá.
Como pode constatar, tenho um interesse pessoal em aprender tudo o que puder sobre a Doença de Alzheimer e tentar saber se há esperança na prevenção ou tratamento dela.
Infelizmente, ainda não há uma forma certa de saber quem se tornará, ou não, vítima da doença. Nem mesmo a história familiar é um dado certo para se fazer uma previsão. Mas há esperança para se protelar, tratar, e talvez até escapar-lhe.
Risco Relativo“O que eu digo sempre às famílias”, diz o Dr. Richar Powers, chefe da Divisão de Psiquiatria Geriátrica, do Departamento de Saúde Mental de Tuscaloosa, Estados Unidos da América, “é: o vosso risco relativo está relacionado com o número de familiares que tenham tido a doença, da proximidade da linha sanguínea, e a idade em que se instalou. Vamos dizer que tem uma tia que teve a doença com 82 anos. Bem, o seu risco é levemente mais elevado do que o da população em geral, mas não muito. Por outro lado, digamos que o seu pai começou a sofrer da doença com 49 anos, e o irmão dele com 52 anos. Essa história aumenta realmente o seu risco, mas não quer necessariamente dizer que a vá contrair”.
Há maneiras de melhorar as nossas possibilidades de evitar a Doença de Alzheimer, mesmo que a nossa história familiar seja um tanto desanimadora. Uma delas é manter um estilo de vida saudável. Acredita-se, agora, que o que faz bem ao coração – exercício físico regular, alimentação saudável, gerir o stresse, manter a tensão arterial e o colesterol a níveis recomendáveis – poderá, na verdade, fazer diferença sobre se contraímos ou não Alzheimer ou uma das doenças que a imitam (ver caixa abaixo).
“Existem algumas coisas que é aconselhado fazer à medida que se vai envelhecendo”, diz o Dr. Powers. “Primeiro, todos os estudos que foram feitos sobre a tensão arterial elevada demonstraram que há um relacionamento entre o tratamento deficiente ou a falta de tratamento da hipertensão, com a demência. É provável que tenha origem no facto de que os pequeninos vasos sanguíneos do cérebro são agredidos quando se tem hipertensão.
“Por isso, a primeira coisa que se deve fazer para poupar o seu cérebro, é poupar os vasos sanguíneos”, diz ele. “Pode-se fazer isso controlando a tensão arterial elevada. A mesma coisa para a doença cardíaca e cardiovascular, que estão, muitas vezes, ligadas à hipertensão. Tem de se cuidar bem do coração.”
Mente e CorpoO exercício físico também é importante.
“Os estudos mostram, por exemplo, que andar 30 minutos por dia reduz substancialmente o risco de hospitalização devido a doenças cardíacas, quando se tem mais de 65 anos. Por isso, faça exercício regularmente para controlar a hipertensão. Se o seu médico lhe disser que tem batimentos cardíacos irregulares (fibrilação auricular) e o aconselhar a tomar um medicamento, tome-o.”
O Dr. Powers acrescenta: “Conforme a pessoa envelhece, o seu repertório intelectual parece ficar simplificado, e isso não é bom. O que realmente se deve fazer é manter o cérebro tonificado, exercitando-o. Fazer coisas novas. Começar um novo passatempo. Aprender uma língua.”
Ele aconselha os seniores a comprarem um computador. “É como se fosse uma língua nova. Abre um mundo totalmente novo. Se acabar por não poder sair de casa, nunca ficará isolado, nunca se ficará isolado se se estiver online.”
TENHA CUIDADO COM AS DOENÇAS QUE IMITAM A DOENÇA DE ALZHEIMER
• Demência de multi-enfarte: Pode ser causada por uma série de enfartes dentro do cérebro que são tão pequenos que a pessoa que os teve pode não ter dado por qualquer mudança. No entanto, eles destroem o tecido cerebral e danificam as funções intelectuais e de memória.• Depressão: Por vezes parece-se com a Alzheimer por causar perdas de memória, prejudicar as funções mentais e criar confusão.• Doença de Pick: Causa mudanças de personalidade e é relativamente rara.• Doença de Huntington: É uma doença genética que normalmente se desenvolve entre os 30 e os 50 anos, embora possa começar mais tarde. Os sintomas incluem lapsos de memória a curto prazo, depressão, movimentos musculares descontrolados, cambalear e falta de controlo da fala, etc..

Fazer palavras cruzadas também pode ser útil, diz ele. “Não é uma apólice de seguros, mas penso que é uma forma de estímulo intelectual. Eu sei que a minha mãe, que tem 90 anos, faz palavras cruzadas todos os dias, e ela está muito lúcida.”
A leitura também pode ajudar. “Penso que quanto mais se estimular o cérebro, melhor, e a leitura estimula-o.” Ele continua a dizer que estudos mais recentes sugerem que é provável que as pessoas que, durante toda a vida tiveram estímulos intelectuais, têm menor risco de demência.
Os relacionamentos chegados também nos mantêm mentalmente estimulados, sejam eles com membros da família, amigos, ou outras pessoas de cuja companhia gostamos.

Lento mas Contínuo
A actividade física é importante, mas não deve ser vigorosa. “Andar regularmente quando se tem 70 anos ou mais, pode ajudar a mente a manter-se lúcida e longe da Doença de Alzheimer, segundo investigações recentes que sugerem que o que é bom para o coração também é bom para o cérebro”, escreve Lindsey Tanner num artigo para a Associated Press, publicado em Setembro de 2004. “Um estudo, envolvendo 2257 homens reformados com idade entre os 71 e os 93, chegou à conclusão de que aqueles que andavam menos de 400 metros por dia tinham quase o dobro das probabilidades de desenvolver Alzheimer ou outras formas de demência, do que aqueles que andavam mais do que dois quilómetros por dia.
“Um estudo com 16 466 enfermeiras com idades compreendidas entre os 70 e os 81 anos chegou à conclusão que mesmo aquelas que faziam um passeio de uma hora e meia por semana tinham melhores resultados nos testes de funcionamento cerebral do que as mulheres menos activas.”
Embora a perda de memória seja associada à Alzheimer, pode também ser um subproduto da idade, e não necessariamente uma indicação da doença. No Los Angeles Times, Benedict Carey escreve: “Começando por volta dos 28 anos, os pontos que conseguimos nos nossos testes de memória declinam continuamente, dizem os investigadores; quando chegamos aos 55 anos, a nossa capacidade de associar nomes a rostos ou memorizar números de telefone já diminuiu cerca de 20%.”
Por outro lado, continua ele – e isso é animador – “quando estimulados da maneira correcta, os cérebros de qualquer idade podem fazer nascer células e arranjar outras vias de acesso para arquivar qualquer informação nova.”
Se está preocupado com a possibilidade de ter Doença de Alzheimer, faça um teste de memória, mesmo que seja apenas para ficar com a consciência tranquila. Fale com o seu médico de família e se ele vir que há alguma possibilidade, enviá-lo-á a um especialista, que lhe fará os testes de avaliação.
A Associação Portuguesa de Familiares e Amigos de Doentes de Alzheimer é uma IPSS que apoia os seus associados de diversas formas. O recibo dos donativos que quiser enviar poderão, portanto, ser deduzidos do seu IRS. Para obter mais informações, vale a pena ver o seu site: www.alzheimerportugal.orgDamos, abaixo, os endereços dos vários Núcleos da APFADA:
SEDEAv. de Ceuta-Norte, Lt. 1 – Loja 1 e 2Qta do Loureiro1350-410 LISBOATelf.: 21 361 04 60-8Fax: 21 361 04 69e-mail: geral@alzheimerportugal.org
DELEGAÇÃO NORTER. Barão do Corvo, 1814430-039 VILA NOVA DE GAIATelef.: 22 606 68 63e-mail: apfadaporto@sapo.pt
DELEGAÇÃO CENTROCentro de Saúde de Pombal3100-000 POMBALTelef.: 236 20 09 70Fax: 236 20 09 71e-mail: chfadm1@cspombal.srsleiria.min-saude.pt
DELEGAÇÃO DA REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRAAv. do Colégio MilitarComplexo Habitacional da Nazaréc/v do Bloco 21 Sala E9000-135 FUNCHALTelef.: 291 77 20 21e-mail: alzheimerfx@netmadeira.com
NÚCLEO DO RIBATEJOR. Dionísio Saraiva, Lt 1 - 1º2080-104 ALMEIRIMTelf.: 243 59 41 36 / Fax: 243 59 41 37e-mail: carla.apfada@netcabo.pt
NÚCLEO DE AVEIROSanta Casa da Misericórdia de AveiroComplexo Social da Quinta da MoitaOliveirinha3810 AVEIROTelf.: 234 94 04 80
 
NÚCLEO DE ELVASAna Paula RibeiroTelemóvel: 96 858 33 38 (14h-20h)e-mail:apfadaelvas@hotmail.com
 
 
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Sinais e Sintomas
Alguns dos sintomas de Alzheimer, além da perda de memória, diz Hall, incluem “ficar confuso sobre o tempo e espaço – por exemplo, talvez perder-se enquanto procura a sua casa. Outra é sentir mudanças irregulares de humor ou comportamento, sentindo ira ou depressão, ficando, por vezes, agitado.
mulher_2960907.jpg“Outro sinal poderá ser ter problemas com tarefas rotineiras – apertar uma camisa ou outras actividades diárias – ter dificuldade em comunicar, esquecer palavras comuns, usar as palavras erradas, experimentando mudanças de personalidade como sentir medo ou suspeita, e falta de senso comum, como usar roupas impróprias para a estação.
“A parte interessante é que quando falamos com as famílias sobre estas coisas, elas dizem: ‘Sabe, eu não sabia o que estava a acontecer, mas isso é verdade.’
“Os tratamentos que estão disponíveis para a doença de Alzheimer”, diz ele, “parecem ser eficazes para adiar a progressão dos sintomas durante uns anos”. “Mas”, acrescenta, “as pessoas não sabem, muitas vezes, que há um tratamento e que há esperança”.
“Um dos problemas com a doença de Alzheimer”, continua Hall, “é que não segue um padrão certo. Algumas pessoas ficam agitadas, enquanto outras ficam dóceis. Algumas ficam hiperactivas, e outras vagueiam”.
Quem cuida de doentes de Alzheimer precisa de saber que há ajuda disponível. “As famílias e os indivíduos não podem fazê-lo sozinhos”, diz Hall. “Há recursos locais e profissionais especializados neste campo, que já viveram esta situação 24 horas por dia. Saber o que está a acontecer”, diz ele, “torna o assunto menos frustrante”.
Cuidando de Quem Cuida
Quem cuida precisa de ser ensinado a cuidar convenientemente, e os grupos de apoio têm um papel vital. Nos grupos de apoios aprende-se com aqueles que estão a experimentar – e a lidar – com a mesma situação que temos de enfrentar. Por vezes, só o facto de sabermos que não estamos sós é suficiente para nos fazer chorar de alívio.
Hall acentua que os que cuidam precisam de cuidar muito bem de si mesmos. “Os estudos mostram que os que cuidam de si mesmos fazem um trabalho de melhor qualidade para com os seus queridos de quem cuidam. Por isso, é importante sair, ter espaço mental. É importante arranjar alguém que ajude para que possa ter algumas horas para ir a um cabeleireiro ou até para levar o carro a lavar... ou outra coisa qualquer. Se há alguma coisa, nesta doença, que me deixa espantado, é o ponto a que as pessoas chegam para cuidarem daqueles que amam.”
Tempo para si, não é um luxo; é uma necessidade. Se tivermos tempo para nós próprios, o nosso ente querido irá beneficiar disso tanto como nós.
Há muitas vítimas da doença de Alzheimer. Com a compreensão e o treino adequados, o impacto da doença sobre todos os envolvidos poderá ser minimizado.
ACÇÃO DE FORMAÇÃOA Associação Portuguesa de Familiares e Amigos de Doentes de Alzheimer vai realizar, na sua Sede, em Lisboa, uma Acção de Formação para Cuidadores Informais, destinada aos familiares de Doentes de Alzheimer. Esta Acção de Formação terá lugar de 16 a 24 de Setembro, estando as inscrições abertas até essa data, sujeitas às vagas existentes. O valor da inscrição é de €20 para associados e de €30 para não associados. Qualquer informação sobre este assunto poderá ser obtida junto de Ana Margarida Cavaleiro – Telef.: 21 361 04 63 / Telm.: 93 410 29 18 / e-mail: ana.m.cavaleiro@alzheimerportugal.org.
 
Peggy Rynk
Jornalista especializada em assuntos de saúde

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