28.8.13

Refluxos entre o Esófago e o Estômago

CONTEÚDO GÁSTRICO
Entre o estômago e o esófago existem alguns mecanismos anti-refluxo que impedem a subida do líquido gástrico. O elemento principal desses mecanismos é um esfíncter situado na parte inferior do esófago. A dilatação do esfíncter pode ser transitória, principalmente quando o estômago está distendido, ou pode ser permanente. Como resultado, o problema torna-se frequente, principalmente quando a pessoa se inclina ou deita.
A hérnia do hiato, que corresponde à subida permanente ou intermitente da parte alta do estômago até à zona torácica através do orifício do diafragma (o orifício do hiato), está presente com frequência e favorece também o refluxo. Mas é possível ter-se hérnia do hiato sem refluxo, ou refluxo sem hérnia.
Excepto em casos especiais e raros, a hérnia não provoca nenhuma manifestação dolorosa. A dor está exclusivamente ligada à existência do refluxo, a menos que a hérnia do hiato altere os mecanismos anti-refluxo. Mesmo assim, ela não provoca nenhuma outra desordem digestiva, como aumento de peso, flatulência ou digestão lenta.
O refluxo do conteúdo gástrico acontece por episódios, sem provocar vómitos. Está presente em quase toda a população: estima-se que 40% a 50% apresentam um episódio de refluxo pelo menos uma vez por mês. Entre 4% a 10% apresentam refluxo diariamente.
O refluxo é caracterizado por ardores que começam no estômago e se espalham pelo tórax e garganta, às vezes, com gosto ácido na boca. Em 30% dos casos, os refluxos manifestam-se unicamente por sensação de ardores na parte superior do estômago, sem a sensação de subir. Durante muito tempo atribuídos a fenómenos de gastrite, esses ardores estão ligados aos refluxos esofágicos.

Consequências variadas
Quando o refluxo se torna frequente e muito incomodativo, a acidez do líquido que reflui pode dar início a uma inflamação da parte inferior do esófago (esofagite), encontrada em metade dos pacientes que procuram o médico. Uma endoscopia é então efectuada. Não existe paralelismo entre a importância da inflamação e a dos sintomas. Nos casos mais frequentes, essa inflamação é moderada e caracterizada por algumas erosões da parte inferior do esófago.
Nalguns casos, o refluxo é mais grave.
Em certas pessoas, o líquido ácido atinge a região respiratória. Nesse caso, pode desenvolver laringite crónica, dores na faringe, tosse crónica ou agravamento dos problemas de bronquite, asma, etc.. O refluxo pode também ocasionar dores torácicas constritivas, aparentando dor coronária.
A gravidade do desconforto é variável de uma pessoa para outra. Algumas apresentam incómodo intermitente, geralmente favorecido por factores determinados. Destacam-se pressões do dia-a-dia, stresse, uso de café e álcool, aumento de peso, alimentação muito condimentada. Outros pacientes têm um desconforto mais significativo, que dura algumas semanas.
Só um pequeno número de doentes é medicado e apresenta refluxos constantes ao longo de todo o ano. Esses não podem ficar sem os medicamentos. Segundo dados actuais, e apesar de existirem características muito diferentes de pessoa para pessoa, parece que não há nenhum agravamento evidente da patologia no decorrer dos anos. A gravidade do refluxo parece determinada de imediato.
Deve procurar-se um médico, quando os problemas se tornam frequentes e realmente desconfortáveis. Quando acontecem repetidas vezes na mesma semana e, especialmente, quando se é acordado de noite por causa disso. Ou também quando existem sinais de alarme, tais como sensação de bloqueio no momento da deglutição, falta de apetite, alteração do estado geral. O maior sinal é a dificuldade em engolir.
A procura do médico é necessária quando o problema não é resolvido através de medidas higiénicas e dietéticas simples, nem com medicamentos antiácidos.

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O refluxo dos bebés
Entre os recém-nascidos, a existência de refluxo está ligada à falta de maturidade dos mecanismos anti-refluxo. Por isso, o problema geralmente desaparece após os primeiros três meses de vida. Mais do que a acidez do líquido que reflui, o risco de inalação durante as regurgitações é o maior problema nessa fase.
Fique a saber que...
Certas manifestações digestivas, como digestão lenta, flatulência e sensação de peso no momento das refeições, não estão ligadas ao problema do refluxo, mas frequentemente a problemas de funcionamento gástrico como:• Sintomas crónicos persistentes.• Sintomas periódicos benignos desencadeados por medicação.Os principais factores agravantes ou atenuantes são: stresse, alimentação rica em gordura e álcool.
Tratamentos específicos
Os actuais tratamentos médicos restauram os mecanismos anti-refluxo defeituosos. No entanto, podem perfeitamente controlar as consequências ligadas à acidez do conteúdo gástrico. Eles tratam os sintomas fazendo desaparecer a azia, a inflamação do esófago e as manifestações extra-digestivas quando existem.
O único meio disponível para tratar os mecanismos anti-refluxo é a cirurgia, praticada sob a forma de celioscopia. Mas é indicada nos pacientes que não se recuperam com a acção medicamentosa, aproximadamente 5% das pessoas que procuram o médico.
Existem vários tipos de medicamentos contra o refluxo. Os mais comuns são os antiácidos, que neutralizam a acidez do líquido que reflui. Tem acção eficaz sobre a sensação de azia, mas por bem pouco tempo – menos de uma hora. Não podem tratar nem controlar uma eventual inflamação do esófago. Esses medicamentos devem ser tomados no momento da dor e imediatamente após as refeições.

Se sofre de refluxo esofágico:
Evite comer muito.Reduza a ingestão de gorduras. Elas atrasam o esvaziamento do estômago.Não ingira bebidas alcoólicas. Elas estimulam a dor do esófago.Evite alimentos muito doces, salgados ou condimentados.Preste atenção ao vestuário. O cinto apertado, calças e saias apertadas também são factores causadores de refluxo.Evite dormir com almofadas para diminuir os refluxos nocturnos quando eles existirem.Não fume. O tabaco aumenta a secreção ácida do estômago e favorece o refluxo por causa da tosse que o acompanha.
Outros medicamentos, como os procinéticos, reforçam a tonicidade do esfíncter e favorecem o esvaziamento gástrico. E ainda outros reduzem a secreção ácida do estômago: medicamentos anti-secretórios, antagonistas H2 e inibidores da bomba de protões. Esses últimos são, actualmente, os anti-secretórios mais fortes. A sua acção é prolongada por mais de 24 horas. Esses medicamentos devem ser receitados pelo médico.
Apesar dos tratamentos fortes disponíveis, alguns doentes são apenas parcialmente aliviados dos ardores torácicos e da garganta. Essa aparente resistência ao tratamento deve levar a uma revisão do diagnóstico de refluxo ou evocar a possibilidade de esófago “hipersensível”. Nesse caso, os indivíduos são muito incomodados, enquanto que, quantitativamente, apresentam refluxo normal sem inflamação do esófago. Certos exames mais específicos, como o registo da acidez esofágica em 24 horas, podem, então, ajudar a compreender o mecanismo dos sintomas para adaptação do tratamento.
A maior parte dos doentes de refluxo gastroesofágico não vai ao médico porque os sintomas incomodam pouco. Recorrem à automedicação, o que nem sempre é aconselhável. Se o refluxo for pouco frequente, se o desconforto for insignificante e se não apresentar nenhum sinal de alarme, a pessoa deve seguir as medidas de prevenção dietética (veja o quadro).
Se o refluxo persistir ou reincidir com frequência, se incomodar muito e se for difícil avaliar a gravidade da situação, o médico deve ser consultado. Apenas o indivíduo com refluxo pode avaliar a sua gravidade e julgar a necessidade ou não de fazer endoscopia para avaliar a existência, ou não, de esofagite ou hérnia do hiato.

Agnes Bodechon

Colaboradora da nossa congénere Vida e Saúde

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