Não sei se o rótulo é correcto, mas chamam-lhe a “assassina silenciosa”. Não tem sintomas visíveis, não provoca dor nem se faz sentir... até ser demasiado tarde! Nessa altura, já provocou alterações progressivas nos vasos sanguíneos e o primeiro sinal da sua existência pode ser um ataque cardíaco ou um AVC.
Como já deve ter percebido, refiro-me à hipertensão arterial. Mas, antes de entrarmos no tema de hoje, vejamos o que é a tensão arterial. É o valor, medido numa situação de repouso e num ambiente calmo, que representa o esforço que o coração faz para bombear o sangue através do sistema circulatório. Esse valor está relacionado com o volume de sangue que sai do coração e com a resistência que ele encontra ao circular nas veias e artérias. Há alguns factores que afectam a pressão arterial: a viscosidade do sangue, o ritmo cardíaco, a elasticidade dos vasos e estímulos hormonais e nervosos.
A pressão arterial tem dois componentes: o sistólico, que representa o valor obtido quando o sangue é expulso do coração; e o diastólico, quando o coração está em repouso. Considera-se uma pressão arterial normal, quando os valores sistólico (máxima) e diastólico (mínima) não ultrapassam os 120/80 mmHg (milímetros de mercúrio). A partir dos 140/90 mmHg considera-se que há hipertensão arterial, que se torna tanto mais perigosa quanto mais prolongado for o período de tempo que dura, e quanto mais esse valor for superior aos valores normais. Algumas das complicações decorrentes da hipertensão: AVCs, ataques cardíacos, doenças dos rins, problemas da retina, aterosclerose (endurecimento das artérias), ruptura de vasos sanguíneos, perda de memória e de capacidades mentais (ver Quadros 2 e 3).
Factores promotores da hipertensão arterial
Se eliminarmos alguns factores orgânicos promotores da hipertensão (certos tipos de tumores, doenças renais, hereditariedade...) podemos dizer que 90% dos casos de hipertensão estão ligados a um estilo de vida incorrecto. A este tipo de hipertensão chama-se hipertensão essencial, e contribuem para ela:
Ingestão excessiva de sal. Cerca de 80% da população mundial, que ingere muito pouco sal, tem também uma taxa de hipertensão muito baixa. Ao contrário, onde o consumo de sal é elevado (no Japão, por exemplo), a doença é epidémica e afecta um em cada dois adultos. Em geral, consome-se entre 10 e 20 vezes mais sal do que aquele que o organismo necessita (menos de 250mg por dia). Embora o sódio seja essencial para o metabolismo do organismo, em excesso pode causar problemas. Ao não ser eliminado pelos rins, o excesso de sódio permanece nos tecidos e provoca a retenção de água. Isso leva a um aumento de volume, que eleva a pressão arterial, que, por seu lado, aumenta o esforço do coração.
Obesidade. Praticamente todos os obesos sofrerão, mais tarde ou mais cedo, de hipertensão. É só uma questão de tempo.
Placas arteriais, ou aterosclerose. Quando as artérias ficam mais estreitas e entupidas, o coração tem mais dificuldade em bombear o sangue, o que exige mais esforço e, consequentemente, eleva a pressão arterial, para conseguir fazer passar o sangue e levar o oxigénio e os nutrientes a todo o organismo.
Falta de exercício. O complicado ritmo de vida actual não nos deixa muito tempo nem espaço para fazer exercício físico. E isso reflecte-se na nossa pressão arterial. O exercício físico, praticado regularmente, seguindo os conselhos de um médico, ajuda a queimar gorduras, promove uma melhor irrigação cardíaca, estabiliza e reduz o ritmo cardíaco (ao mesmo tempo que aumenta a capacidade do coração para bombear mais sangue com menos esforço), ajuda a melhorar a saúde em geral (ao melhorar a oxigenação e a circulação do sangue) e promove a “limpeza” dos vasos sanguíneos.
Tabaco. O uso do tabaco é um dos factores mais activos no desenvolvimento da hipertensão arterial. Além dos já conhecidos e terríveis efeitos que o tabaco tem sobre o sistema respiratório (causando bronquites, enfisemas, cancros, etc.), é importante salientar o poderoso efeito vasoconstritor (estreitamento dos vasos sanguíneos) provocado pela nicotina, que deve ser somado à acção do monóxido de carbono, que interfere directamente com a capacidade dos glóbulos vermelhos de transportar oxigénio, acelerando a solidificação das gorduras do sangue (colesterol e triglicéridos) e o espessamento e endurecimento das paredes dos vasos sanguíneos. Na verdade, o uso do tabaco é um dos principais responsáveis por centenas de milhar de ataques cardíacos e de AVCs.
Álcool. O uso de álcool, mesmo moderado, é um dos factores mais activos no desenvolvimento da hipertensão arterial. Além de ser a droga mais usada a nível mundial, e a que maiores problemas de saúde, sociais, laborais, familiares e pessoais suscita, o álcool é, também, motivo de preocupação no âmbito da pressão arterial. Estudos científicos provaram que a pressão arterial sobe entre 5 e 15%, depois de ingerida uma bebida alcoólica. Os consumidores habituais de álcool, mesmo os que se dizem moderados, ou bebedores sociais, correm um risco muito mais elevado de sofrer um AVC ou um ataque cardíaco, do que alguém que não usa essas bebidas. Por outro lado, o álcool contribui para a saturação das gorduras presentes no sangue, levando ao seu depósito nas paredes dos vasos sanguíneos. O mesmo podemos e devemos dizer do uso da cafeína. Além disso, esta é vasoconstritora, com os efeitos adversos que isso representa para a circulação sanguínea.
O que fazer?
Permita-me, prezado Leitor, fazer aqui uma curta chamada de atenção para o uso de medicamentos destinados a baixar a pressão arterial. Existem muitos desses medicamentos hoje no mercado e, alguns deles, são realmente uma bóia de salvação. A maioria produz resultados rápidos, que a maior parte dos doentes com hipertensão procura. Mas, se olharmos de perto para esses medicamentos, descobrimos alguns factos perturbadores: Eles não curam a hipertensão, apenas a controlam. Nalguns casos, esses medicamentos devem ser tomados para o resto da vida e, embora ajudem na protecção contra os AVCs, não ajudam a proteger as artérias coronárias contra a aterosclerose (entupimento das artérias).
Por isso, gostaríamos de lhe apresentar uma forma mais natural de controlar, e até baixar, a sua hipertensão. Muitos dos doentes que sofrem de hipertensão essencial ligeira poderiam normalizar a sua pressão arterial seguindo alguns conselhos simples e práticos.
Vários estudos científicos mostram que simples mudanças alimentares e de estilo de vida podem inverter a situação, numa questão de semanas.
Eis os nossos conselhos:
Reduza o consumo de sal a menos de uma colher de chá por dia. Atenção: conte nessa sua avaliação com o sal “escondido” presente nos alimentos pré-cozinhados, enlatados, conservados, etc. (ver Quadro 4).
Procure perder peso. Quando o peso desce, geralmente a pressão arterial também desce. Em muitos casos, a redução do peso excessivo é tudo o que é preciso para diminuir uma pressão arterial alta. Para isso, pode recorrer aos conselhos de um nutricionista, mas também pode evitar ingerir alimentos ricos em gorduras saturadas (de origem animal), substituindo-os por alimentos de origem vegetal, o menos processados possível (ver Quadro 5).
Beba muita água. A água é o líquido mais importante e necessário para o nosso organismo. A ingestão de 8 a 10 copos de água pura por dia, entre as refeições, ajuda a promover uma limpeza do organismo, ao mesmo tempo que produz uma liquidificação do sangue e facilita o trabalho dos rins.
Siga, como dissemos acima, uma alimentação pobre em gorduras mas rica em fibras. Isso ajuda a reduzir a pressão arterial em 10%, já que a diminuição do nível de gorduras no sangue ajuda a que este seja mais fluído.
Elimine da sua alimentação e dos seus hábitos de vida o álcool, o tabaco e o café. Além de eliminar factores muito importantes no desenvolvimento da hipertensão, estará a dar ao seu organismo uma nova oportunidade também em muitas outras áreas da saúde (ver Quadro 6).
Procure ter períodos de repouso regulares e reparadores. Quer dizer, no seu estilo de vida deve procurar evitar as noitadas, os trabalhos fora de horas, mantendo um ritmo regular do ciclo sono/actividade, para que o seu organismo possa recuperar o equilíbrio e a saúde.
Pratique exercício físico regularmente. Além de promover a saúde e o bem-estar do organismo, em geral, a prática regular de exercício físico ajuda a queimar gorduras, desenvolve a capacidade do coração, aumenta a oxigenação, tonifica os músculos, melhora a circulação e diminui a resistência dos vasos sanguíneos à passagem do sangue.
Faça exames regulares, para avaliar a sua tensão arterial e o estado geral do seu organismo. A melhor forma de controlar uma doença é saber da sua existência o mais cedo possível, e seguir os conselhos adequados para a curar, ou travar o seu desenvolvimento.
Finalmente, torne-se um leitor criterioso dos rótulos das embalagens dos alimentos que compra, a fim de determinar o seu teor em sal, gorduras, etc. (ver Quadro 7).
Um último conselho, amigo Leitor: Se está a tomar medicamentos para controlar a tensão arterial, não seja médico de si mesmo – não reduza ou elimine a sua medicação sem consultar o seu médico. Se quer realmente fazer mudanças positivas no seu estilo de vida e nos seus hábitos alimentares, então fale com o seu médico. Ele certamente ficará feliz por o ajudar a pôr de lado essa ameaça silenciosa, usando a alimentação, os hábitos de vida e a prática do exercício físico.
Fonte dos Quadros
Quadros 1 a 6 – Neil Nedley, Proof Positive, p. 130 em diante.
Quadro 7 – Saúde e Lar, Maio de 2006.
Quadros 1 a 6 – Neil Nedley, Proof Positive, p. 130 em diante.
Quadro 7 – Saúde e Lar, Maio de 2006.
Manuel Ferro
Redacção Saúde & Lar
Redacção Saúde & Lar
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