P: Casámo-nos há um ano e, ainda que vivamos numa casa independente e afastada, não conseguimos evitar uma demasiada proximidade dos pais do meu marido, quer a nível de espaços quer a nível de envolvimento na nossa vida. Situação agravada pelo facto de que o meu marido depende economicamente dos pais para a conclusão dos seus estudos. Não quero magoar ninguém, mas sinto-me invadida e condicionada. Que fazer?
R: A relação com as famílias de origem é uma das questões mais difíceis que os casais recém-formados têm que resolver. A negociação e renegociação da mesma é, muitas vezes, factor de desentendimento e de stresse emocional; isto, também, porque a maioria dos casais tem a fonte dos seus problemas relacionais em dificuldades não resolvidas com as respectivas famílias de origem, podendo estes ser fuga dos problemas do próprio casal, como dizem B. Cárter e M. Macgoldrick (1995): “Os relacionamentos por afinidade são uma arena natural para deslocar tensões do casal ou da família de origem de cada cônjuge.”
Os cônjuges lidam com as famílias de origem de maneiras muito diferentes. Alguns aproximam-se mais das suas famílias de origem depois do casamento, geralmente as mulheres. Outros consideram o casamento a grande oportunidade para se separarem das suas, geralmente os homens. Tudo depende da qualidade dos relacionamentos estabelecidos e das experiências vividas. O ideal, raramente encontrado, é aquele em que os cônjuges se tornaram independentes antes do casamento, embora mantendo laços estreitos e afectuosos com a família. Este não parece ser o vosso caso dada a dependência económica do seu marido.
No entanto, a situação não tem que ser desesperadora. Uma conversa franca, aberta, sem acusações nem rejeições, entre os cônjuges, sobre o assunto, pode possibilitar, de comum acordo, o estabelecimento de limites à presença física dos sogros, assim como à sua intromissão na vida conjugal do casal.
Mesmo face à relativa dependência económica deve-se, com respeito e tacto, mas também com firmeza, fazer-se sentir aos pais que ajudam, que essa ajuda não pode ter o preço da liberdade e da autonomia do casal.
Deixo-lhe alguns princípios gerais, a seguir nos relacionamentos com parentes próximos, adaptados de David Mace (1974):
Unidade do casal: nenhuma interferência de qualquer pai pode prejudicar um casamento saudável. Os pais não conseguem causar fissuras entre um marido e uma esposa que se mantêm unidos.
Não tolerar interferências: tornar claro que querem ser amigos e desejam trabalhar para a harmonia entre as gerações, mas que não serão toleradas interferências indevidas no vosso casamento.
Ser conciliatório: Uma confrontação, ou discussão, deveria ser seguida de tentativas genuínas de boa convivência, sendo amistosos e conciliatórios. Podem comportar-se carinhosamente com os sogros, mesmo que não sintam carinho, porque a acção tende a promover o sentimento. Um esforço real nesta direcção animará o cônjuge oriundo da família em causa. A experiência mostra que esta política pode, com o tempo, alcançar um surpreendente grau de sucesso.
Visitas ajustadas: Se, entre o casal e os pais, existir muito pouco em comum, o melhor é fazerem, de ambos os lados, visitas curtas de tempos a tempos.
A Família é para sempre: Lembrem-se que os laços de família não podem ser quebrados e que duram por toda uma vida. Mesmo que o relacionamento com os pais seja, como deve ser, independente, pode chegar o tempo em que vocês precisem da ajuda deles ou eles da vossa.&
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