12.9.13

Cancro da Mama - Fazer ou Não Fazer

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Fazer um rastreio é um passo muito importante para o diagnóstico do cancro da mama. Mas não chega. O rastreio não previne o cancro da mama, só o detecta cedo e torna as hipóteses de cura maiores. O que é necessário é uma prevenção activa. Mas, como? Além das medidas alimentares, o que é que se deve, ou não, fazer, para evitar ter cancro da mama?
A Terapia Hormonal de Substituição (THS) é normalmente tomada para aliviar os desagradáveis efeitos da menopausa, para prevenir a osteoporose, e para prevenir a doença cardiovascular. Os estudos confirmaram um efeito protector sobre os ossos. O Women’s Health Initiative (WHI), por exemplo, registou menos 5 fracturas por 10 000 mulheres em tratamento de THS.(1)
Mas o risco de cancro da mama é elevado entre as mulheres que tomam THS.(2) O risco depende da duração do tratamento, e diminui após a cessação, desaparecendo cerca de cinco anos depois.(3) O WHI mostrou um aumento de 26% de cancro da mama em mulheres que tomaram THS(4), com um índice mais elevado de 30% no Heart and Estrogen Replacement Study (Estudo da Substituição de Coração e Estrogénio).(5) Além disso, o cancro da mama em mulheres sob tratamento de THS foi diagnosticado num estágio mais avançado.(6)
Surpreendentemente, não foi confirmada nenhuma protecção cardiovascular. Pelo contrário: no WHI, por cada 10 000 mulheres saudáveis a tomar THS, havia mais sete com problemas cardíacos, mais oito com derrames cerebrais e mais oito com embolismo pulmonar – um total de 23 casos mais de problemas cardiovasculares!
Serão os benefícios superiores aos riscos? Um estilo de vida saudável é uma alternativa muito melhor para prevenir os sintomas da menopausa. Uma alimentação pobre em gordura e alimentos de origem animal, rica em fibras, diminui os níveis hormonais pré-menopáusicos. (Ver artigo “Comer ou Não Comer”). Isso significa que, na menopausa, a queda para os níveis hormonais da menopausa não é tão grande, e os sintomas da menopausa são menos perturbadores. 
Os Contraceptivos Orais também têm mostrado aumentar o risco de cancro da mama em cerca de 15-25%.(7) Contudo, este aumento não se reflecte em números elevados, uma vez que desaparece cerca de dez anos após a interrupção do contraceptivo oral, e a maior parte das utilizadoras são jovens com um baixo nível de risco.(8)
Há uma convincente evidência de que a amamentação tem um efeito protector no cancro da mama. Uma análise de 47 estudos, levados a efeito em 30 países diferentes, mostrou 4,3% de diminuição do risco por cada ano de lactação.(9) A amamentação também é benéfica pois ajuda a perder excesso de peso que tenha havido durante a gravidez. Não é apenas o bebé amamentado que ganha com a amamentação.

Apenas 4 factores de estilo de vida:
√ Comer mais fruta e vegetais e menos carne 
√ Fazer exercício físico 
√ Manter um peso corporal normal 
√ Não beber bebidas alcoólicas 
Não negligencie a sua saúde.

O peso corporal excessivo aumenta o risco de cancro. Na pós-menopausa, a maioria do estrogénio é produzido pela gordura no corpo. A gordura corporal afecta directamente os níveis de hormonas como o estrogénio, a insulina e os factores de crescimento relacionados com insulina, que incentivam a carcinogenese.(10) O risco de cancro da mama depois da menopausa aumenta em 30% com o excesso de peso, e em 50% com a obesidade.(11) Mais do que qualquer outro cancro, relaciona-se com quanto peso ganhe em adulto.(12)
Num estudo de 44 000 mulheres na pós-menopausa, aquelas que ganharam 9-18 kg em adultas tinham 68% de risco acrescido de terem cancro da mama que se espalhou pelo corpo, do que quem aumentou menos de 9 kg. Quem aumentou entre 19 e 36 kg quase duplicou este risco, e quem aumentou 37kg ou mais, triplicou este risco.(13) A obesidade está a alastrar, como uma epidemia, por todo o mundo. Um regime alimentar saudável, com muita fruta e legumes, leguminosas e cereais integrais, juntamente com o exercício regular, ajudarão grandemente a evitar este problema.
A inacção, em si, também está relacionada com o cancro. (14) Quem passa pelo menos 4 horas por semana a fazer exercício, diminui o seu risco de cancro da mama em mais de 1/3. A actividade física moderada regular aumenta o rácio metabólico e, a longo prazo, aumenta a eficiência e a capacidade metabólica, reduz a tensão sanguínea e a resistência à insulina, e diminui os níveis de estrogénio.(15)
A luz solar, com moderação, promove a saúde e fortalece o sistema imunitário. Parece que também protege contra o cancro da mama.(16) O exercício diário, ao ar livre, proporcionará a luz solar necessária, os efeitos protectores do exercício, e ajudará a controlar o peso.
É provável que a vitamina D produzida pela exposição solar seja um factor contribuinte. Os baixos níveis de vitamina D estão associados à agressividade do cancro da mama, e a um risco maior em desenvolver cancro da mama na pré-menopausa.(17) Noutro estudo, quem tinha um nível mais elevado de vitamina D tinha um risco menor de cancro da mama.(18) A vitamina D pode prevenir e controlar o cancro ao reduzir a proliferação celular, aumentando a diferenciação das células, e refreando o crescimento de novos vasos sanguíneos. 
O álcool é outro factor importante no cancro da mama. O álcool interfere com o metabolismo e os receptores do estrogénio, influenciando, assim, os níveis hormonais. O álcool é metabolizado nos produtos carcinogénicos, tais como o acetaldeído, e também promove a penetração de carcinogénios nas células.(19) Uma bebida diária está associada a um risco mais elevado em cerca de 7%. Três ou mais bebidas por dia aumentam o risco de cancro da mama em 30-50%.(20) Mesmo o uso moderado de apenas 3 bebidas por semana pode aumentar o risco.(21) A única opção segura é evitar as bebidas alcoólicas.
Para prevenir o cancro da mama, evite a THS, amamente os seus filhos, faça exercício ao ar livre para apanhar luz solar, e siga as recomendações da Associação Americana do Cancro.

Marianne Ferreira
Médica

Referências:
1. JAMA 288 (2002): 321-333.
2. Breast 13: 515-518. 
3. WHO World Cancer Report 2008: 413.
4. JAMA 288 (2002): 321-333
5. JAMA 280 (1998): 605-613.
6. JAMA 289 (2003): 3243-3253. 
7. Lancet 347 (1996): 1713-1727.
8. Drug Safety 24 (2002): 741-754.
9. Lancet 360 (2002): 187-195.
10. Food, Nutrition, Physical Activity, and the Prevention of Cancer: a Global Perspective. (2007) World Cancer Research Fund, American Institute for Cancer Research: 292-293.
11. Am. J. Epidemiol. 152: 514, 2000.
12. JAMA 296 (2006): 193.
13. Cancer 107 (2006): 12.
14. Neil Nedley, Proof Positive, 1999, p 44.
15. Food, Nutrition, Physical Activity, and the Prevention of Cancer: a Global Perspective. (2007) World Cancer Research Fund, American Institute for Cancer Research: 292-293.
16. Am. J. Epidemiol. Oct.12, 2007. DOI:10.1093/aje/kwm259.
17. J. Clin. Oncol. Vol 27, No 23 (10 Ag), 2009:3757-3763.
18. J. Steroid Biochem.& Molec. Biol. 2007, Mar; 103(3-5): 708-11.
19. Food, Nutrition, Physical Activity, and the Prevention of Cancer: a Global Perspective. (2007) World Cancer Research Fund, American Institute for Cancer Research: 291.
20. Br. J. Cancer 87 (2002): 1234-1245.
21. Schatzkin A et al. N. Engl. J. Med. 1987, May 7; 316(19): 1169-1173.

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