Estamos no início de um novo ano e, como certamente acontece todos os anos, prometemos a nós mesmos que nada vai ser igual, que vamos mudar tudo, que temos novas oportunidades e planos que vamos concretizar.
Fantástico! Realmente essa decisão é talvez a melhor que podemos tomar, para evitar que se repitam os desapontamentos e fracassos do ano que acabou.
No entanto, há um fator que domina a cena da vida diária que quase nunca temos em conta, mas que afeta largamente o que será a nossa vida no ano que se inicia.
Refiro-me ao ritmo acelerado em que nos movemos, à rapidez que nos é exigida a cada passo na realização das nossas obrigações, ao contrarrelógio constante que nos leva a rodopiar entre o trabalho, a casa, os compromissos, o trânsito e uma infinidade de outras coisas que ocupam o nosso horizonte material, emocional e social.
Hoje, vivemos à velocidade da luz, por assim dizer, dependendo de meios cada vez mais rápidos de comunicação, de análise, de pesquisa, de informação.
Atualmente, quase nada se pode fazer sem uma máquina informatizada, sem um iPad, um iPod, um Tablet, um computador portátil, um smartphone, uma internet superveloz, uma calculadora supercientífica, um avião super-rápido, um carro superpotente.
Realmente, vivemos no século da Ciência e da Tecnologia. Mas, no meio disto tudo, onde se insere o Homem? Qual é o seu papel? Onde está a sua identidade, a sua capacidade de escolha, o seu valor como ser vivo e pensante?
No meio do torvelinho em que vivemos, muito se perde da capacidade do Homem para ser humano. O Homem desgasta-se, reduz-se ao seu mínimo emocional, intelectual e social ao ter de enfrentar os desafios que as máquinas e o estilo de vida que criou lhe impõem.
Não admira, portanto, que, hoje, vivamos num período de desorientação, de perda de valores, de esgotamento das energias emocionais e físicas. Não admira que os consultórios dos psicólogos, dos psiquiatras, dos neurologistas, estejam sempre a fervilhar de utentes, mais ou menos destroçados pela veloz máquina do tempo. E ainda admira menos saber que milhões de pessoas procuram nos sedativos e nos tranquilizantes o refúgio, o descanso que restaure as suas energias e a sua vida interior.
SABIA QUE...
O cansaço é uma das queixas mais frequentes nas consultas médicas?
As horas de sono antes da meia-noite são as mais restauradoras?
Os adolescentes necessitam de uma média de nove horas de sono por noite, mas que a maioria não as tem?
As crianças em Portugal passam cerca de 4 horas por dia à frente da televisão (e Internet), roubando assim horas preciosas ao sono?
A maioria das pessoas deitar-se-ia mais cedo se visse menos televisão e utilizasse menos a Internet?
Porquê?
Mas, a que se deve esse cansaço? Não deveríamos sentir-nos bem com as facilidades que hoje temos, graças aos avanços da tecnologia? Podemos sentir-nos bem com as “engenhocas” que temos, mas acabamos por nos tornar escravos delas.
Na verdade, embora muitos dos casos de cansaço e de esgotamento físicos se devam a problemas de saúde (gripes, constipações, etc.), a grande maioria dos casos é fruto da falta de descanso. Parece uma verdade de La Palisse, mas é assim mesmo: hoje não dormimos as horas suficientes, e o nosso sono não tem a qualidade necessária para dar ao nosso organismo a possibilidade de se restaurar.
Infelizmente, todos conhecemos a sensação frustrante de acordar mais cansados do que nos deitámos, ou porque nos deitámos tarde, ou porque não tivemos um sono reparador.
Muitas pessoas começam o seu dia ingerindo “bombas” que obrigam o seu organismo a reagir, quando, na verdade, o que ele pede é repouso. Refiro-me, claro, aos cafés, aos chás fortes, a refrigerantes com cafeína, ou, pior ainda, a medicamentos que vão anular o efeito dos calmantes e sedativos ingeridos na noite anterior.
Mas isto provoca um efeito de ricochete: ao desequilibrar a interação dos nossos sistemas nervosos simpático e para-simpático, cria-se uma maior necessidade de ingerir calmantes e sedativos, o que leva a um aumento da necessidade de ingestão de “coisas” para acordar e ficar ativo, o que provoca um desgaste cada vez maior de energia.
De facto, temos a tendência para esquecer uma verdade universal: o cansaço é cumulativo. Uma hora de sono perdida, para alguém que precise de dormir, digamos, 7 horas por noite, se se repetir nas noites seguintes, ao chegar ao fim de uma semana, contará como uma noite inteira de sono em falta. E isso pode ser desastroso: aumento da irritabilidade e da agressividade, falta de energia, perda da capacidade de concentração, diminuição do rendimento intelectual e laboral, diminuição da criatividade e até redução da capacidade de avaliação.
Não é sem razão que a Direção Nacional de Transportes e Segurança dos Estados Unidos da América calcula que mais de 100 000 acidentes de trânsito que ocorrem anualmente naquele país, dos quais resultam mais de 1500 mortos e 71 000 feridos, são causados por condutores sonolentos e cansados. Embora não haja uma estatística semelhante para o nosso país, é óbvio que o cansaço afeta, e muito, a capacidade de condução e a forma como se reage perante uma situação de perigo ou complicada.
O mesmo se pode dizer do efeito do cansaço em qualquer outra área da vida. Se for levado ao extremo, ou melhor, se não for aliviado e compensado com um repouso restaurador, o cansaço pode degenerar em exaustão, depressão e noutros problemas do foro psiquiátrico e psicológico.
TESTE DO SONO
Tenho dificuldade em adormecer.
a) Frequentemente
b) Algumas vezes
c) Raras vezes
d) Nunca
Durmo as horas suficientes e sinto-me repousado quando acordo de manhã.
a) Frequentemente
b) Algumas vezes
c) Raramente
d) Nunca
Consumo bebidas com cafeína (tais como café, chá preto e refrigerantes).
a) Frequentemente
b) Algumas vezes
c) Raramente
d) Nunca
Deito-me cedo, todas as noites.
a) Frequentemente
b) Algumas vezes
c) Raramente
d) Nunca
Importância do repouso
O nosso organismo usa o repouso para se restaurar. É durante os períodos de repouso que os tecidos são renovados, a energia recuperada e os resíduos do metabolismo eliminados. Ou seja, é durante o repouso que o nosso corpo faz uma “revisão completa” ao sistema.
Por outro lado, ao fortalecer o sistema imunit ário, o repouso ajuda a combater e a evitar a doença, ao mesmo tempo que melhora a reação aos ferimentos e danos que o corpo tenha sofrido, incluindo os causados pelo stresse e pelos traumas emocionais.
Tem ainda uma fun ção de “rejuvenescedor”, contribuindo, em certa medida, para um aumento da longevidade.
Da í a importância de termos um bom repouso todas as noites, embora nem todos precisemos da mesma quantidade de sono: os bebés precisam de 16 a 20 horas por noite, as crianças de 10 a 12 horas e os adultos variam muito nas suas necessidades de sono, mas andam, geralmente, entre as 7 e as 8 horas de sono por noite.
Mas, como é evidente, dormir não é a única forma de repousar. Na verdade, o repouso deve ser cultivado em várias áreas da vida, para que possa ser benéfico para todo o ser.
Por isso, amigo/a Leitor/a, desfrute dos seus fins de semana, mas n ão se sente horas a fio em frente de uma televisão, de um computador ou de uma consola de jogos. Aproveite algumas horas para desfrutar da Natureza, para passear com os seus filhos, se os tiver, para conviver com os amigos, para ler, para praticar algum desporto ligeiro ou para cuidar do seu jardim.
Fa ça, também, das suas férias um período de descontração e de relaxamento, não um fardo em que tem de carregar e descarregar “toneladas” de malas e de viver num constante corre-corre entre coisas a ver, coisas a fazer, quilómetros a andar.
Para muitos, o problema não é adormecer – é arranjar tempo para dormir. Uma agenda demasiado preenchida, condimentada com café forte, prolonga-se pelas horas reservadas ao sono.
O seu corpo é o bem mais precioso! Não dormir pode ser uma tentação, mas, a longo prazo, é contraproducente.
Aqui ficam algumas sugestões para desfrutar de um sono melhor:
Deite-se e levante-se sempre à mesma hora.
Evite a cafeína.
Não use bebidas alcoólicas como sedativos. Mais tarde, durante a noite, fazem com que o cérebro fique mais agitado.
Faça exercício de manhã cedo ou ao fim da tarde, mas nunca menos de 2 horas antes de dormir.
Cuidado com os medicamentos para dormir!
Durante o sono normal, o nosso corpo passa por fases de sono mais pesado e sono mais leve. Estas fases são normais e o nosso organismo aproveita-as para se refazer. Por exemplo, durante a fase de sono mais leve têm lugar os sonhos que, aparentemente, proporcionam um escape natural às pressões do dia. Na fase de sono mais pesado, restaura-se o nosso cérebro e são eliminados os radicais livres que se acumularam nos neurónios durante o trabalho intenso do dia. O mesmo acontece com a renovação e substituição das células do nosso corpo.
O sono induzido por medicação, embora possa ser bem-vindo em situações de emergência, e possa parecer compensador, não tem a mesma ação positiva, já que elimina a fase do sono leve.
Por outro lado, os medicamentos que induzem o sono provocam, quase sempre, se tomados continuamente, habituação e dependência, acabando por contribuir para um problema ainda maior do que o anterior.
O uso de álcool tambémé totalmente desaconselhado. Não só o álcool não promove um sono saudável nem natural como provoca danos irreversíveis ao nível do cérebro, do fígado, do estômago, dos vasos sanguíneos. Isto para não falar dos danos emocionais, sociais e psicológicos que provoca ao bebedor e à sua família.
Portanto, não entre por aí.
COMO POSSO DORMIR MELHOR?
Faça intervalos regulares durante o dia de trabalho. Ande um pouco, beba um copo de água e respire fundo.
Faça, diariamente, 30 a 60 minutos de exercício físico. O exercício relaxa, restaura as energias, ajuda a tratar a depressão e combate a ansiedade.
Tanto quanto possível, mantenha um horário regular para se deitar, para se levantar, para comer e para fazer exercício. O corpo revigora-se com a regularidade na vida.
Faça a refeição da noite ligeira e pelo menos 4 horas antes de se deitar. Um estômago vazio e em descanso promove um sono de qualidade.
Se puder, tome um banho de imersão antes de se deitar. É uma técnica de relaxamento eficaz.
Valorize as coisas boas. Encha a sua mente de gratidão e pratique o bem. Uma consciência tranquila e uma mente cheia de gratidão são como almofadas que promovem um sono tranquilo.
Prezado amigo/a Leitor/a, ao iniciar este ano, aqui fica o nosso desafio: Procure organizar o seu tempo de modo a ter momentos de repouso de qualidade, momentos em que o seu corpo e o seu espírito possam realmente ser restaurados. Não encha a sua vida com demasiadas coisas, para não ter de correr entre todas elas.
Sobretudo, não faça da televisão e da Internet o seu descanso. Além de viciantes, esses meios de comunicação cansam o seu cérebro, esgotam as suas energias e acabam por fazer com que durma mais tarde, menos horas e com um sono de qualidade inferior.
Se se sente cansado de estar cansado, então agora é o momento de fazer planos para ter os momentos de refrigério e de repouso de que o seu corpo necessita.
E tenha um bom e feliz ano novo!
Manuel Ferro
Redação Saúde & Lar
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