22.12.13

OS VALORES COMO PREVENÇÃO

O portador do VIH tem o dever moral de evitar transmiti-lo. O contrário pode inclusive constituir delito em muitos países.
«Quando alguém tem o potencial de transmitir a doença a uma pessoa que não foi infectada, deve ser honesto/a e expor a realidade ao seu companheiro/a de cama», diz o doutor Roy Schwarz, secretário executivo da American Medical Association.
Muitos VIH-positivos não são capazes de controlar os seus impulsos sexuais e propagam o vírus; às vezes, sem grandes escrúpulos...
Um estudo da Universidade de Califórnia ganhou evidência a esse respeito. Analisou-se a atitude de 300 homens. Desses, 80 eram homossexuais e confessaram ter relações íntimas com diversas pessoas. A maioria afirmou que se tivesse a sida diria aos seus parceiros, mas 12% confessou que o ocultaria para não alarmar ninguém.
Entre os heterossexuais os resultados foram algo diferentes: 25% asseguraram que ocultariam aos seus parceiros a sua condição de seropositivos (San Francisco Chronicle, 8.1.98).

Para todos
A circunstância que acabámos de referir deve manter em alerta os outros. Por isso, o ideal é evitar a prática do chamado “amor livre”. Ou pelo menos, se é praticado, que se protejam seguindo as normas do “sexo seguro”, prevenindo assim a infecção.
Em particular, a difusão do VIH deve prevenir-se mediante a educação. Todo o cidadão deve dispor de informação básica sobre o assunto. É preciso que sociedades e governos superem a tentação de negar a realidade da sida, e que a abordem como aquilo que é: uma pandemia internacional que cada dia condena cerca de 16 000 pessoas a uma morte lenta e dolorosa (El Clarin, 13.7.98).
Também deve incluir-se informação sobre os perigos das drogas relacionados com a sida.
Mas a educação que consistente na difusão de informação não basta. É apenas o primeiro passo. Há muito mais por fazer.

Repensando a prevenção da sida 
Investigações realizadas entre adolescentes dos cinco continentes mostram que a informação sobre a sida não tem absolutamente nenhum efeito nos comportamentos de risco da sida (Hopkins, 2003).
Os mesmos estudos apresentam o que funciona e o que não funciona em matéria preventiva. Vejamos alguns detalhes destas importantes descobertas (ibid.):
• A distribuição de preservativos não garante o seu emprego entre os adolescentes, embora também não aumente a prática sexual.
• Primordial na prevenção é desenvolver a auto-estima infantil, de modo que ao chegar a adolescência se tenha um autoconceito adequado.
A auto-estima desenvolve-se de maneira especial nos cinco primeiros anos de vida, e requer que os adultos chamem as crianças pelos seus nomes, os acolham devidamente e lhes manifestem reconhecimento (com palavras, gestos e aplausos) pelas coisas boas que fazem.
Se houvesse uma única forma de prevenir a sida entre os adolescentes, seria ocupar o seu tempo.
É conveniente organizar grupos de voluntários adultos (entre os reformados, por exemplo), com valores e dispostos a dedicar umas duas horas por semana para facultar uma actividade útil para os adolescentes. As instituições, empresas e organizações poderiam doar um mínimo de tempo de alguns dos seus trabalhadores para organizar actividades úteis a rapazes e raparigas.


Ênfase em valores

A evidência científica dos programas frutíferos nos países em desenvolvimento (como os que estuda Green, 2003) mostra uma mina apenas explorada nas nações ricas, mas muito proveitosa para controlar e prevenir o VIH/sida. Trata-se de um conjunto de valores sobre o sexo que não perderam a actualidade, apesar de certas correntes os considerarem “conservadores” (ver a estratégia ABC no quadro do artigo anterior).
Além disso, um recente estudo realizado no Texas mostrou que quando se envolvem juntamente pais e alunos em programas que fortalecem a interacção familiar, se constrói uma perspectiva prometedora para a prevenção do VIH e a gravidez de adolescentes (Lederman, Chan e Roberts-Gray, 2004).
Ampliar ainda mais esse círculo, fazendo finca-pé nos valores comunitários (ver quadro), constituiria um eficaz estudo preventivo a longo prazo.&

Extraído e adaptado de Livre de Drogas e Dependências, Rafael Escandón e César Gálvez (A publicar em breve pela Publicadora SerVir).
VALORES PARA SEMPRE
Face à sida a longo prazo…
Já sublinhámos a importância prática da fidelidade no âmbito do casal, e da abstinência fora dele, na prevenção da sida.
Há outras estratégias não menos eficazes para prevenir esta praga, inclusive para a sua total erradicação a médio ou longo prazo. Baseiam-se em valores de tipo comunitário.
Uma delas procura evitar a iniciação sexual precoce. Consiste em transformar a escola numa verdadeira comunidade.
A investigação identificou certas características muito positivas no pessoal e nos alunos dos centros académicos que constituem verdadeiras comunidades, em comparação com os que não o são.
Sentir-se amparado, reconhecido e socialmente estimulado desde a infância evita frustrações, favorece um bom rendimento e previne o recurso a outro tipo de satisfações intrinsecamente nocivas ou para as quais falta a maturidade adequada.
Segundo G.Hopkins, «a estratégia mais efectiva para a prevenção é ocupar o tempo dos adolescentes». A maioria das raparigas que ficam grávidas fazem-no em suas casas entre as três e seis da tarde, depois da escola (e na ausência dos pais).
A melhor medida de prevenção não é nem a distribuição do preservativo nem a difusão de informação correcta (apesar de serem ambas necessárias no seu caso), mas o cultivo de um clima de relações sãs, positivas e permanentes entre crianças e adolescentes, e entre eles e os adultos mais próximos.
Em resumo, um ambiente de amor prático e cordial.

Fontes: Hopkins, 2003; Roberts, Hom e Battistich, 1995.

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