Basta uma rápida vista de olhos sobre a população nacional (e mundial!) para chegarmos à conclusão de que está em curso um fenómeno de envelhecimento: cada vez há mais idosos e menos jovens. Não vamos aqui falar do problema social que isso representa, mas sim do que implica esse envelhecimento a nível pessoal.
Ninguém gosta de envelhecer. Na verdade, hoje, mais ainda do que no passado, há uma procura desenfreada da juventude, quer seja através de métodos “científicos” e cirúrgicos, quer estéticos. O comércio de produtos de beleza, rejuvenescedores, eliminadores de rugas, botoxes e seus afins vende somas astronómicas. O mesmo se pode dizer das cirurgias plásticas, dos comprimidos, dos “elixires”, das “loções” e “poções” que prometem manter ou recuperar uma juventude que, nalguns casos, já se desvaneceu.
Mas, afinal, o que é a terceira idade? Definir a expressão “terceira idade” não é tão fácil como possa parecer. Teoricamente, ao falarmos de terceira idade, estamos a referir-nos a uma fase da vida em que a idade avançada põe algumas limitações, seja no campo da saúde física, seja no da saúde mental e emocional, seja ainda no campo da vivência social e da identidade pessoal. No entanto, todos conhecemos pessoas que são “jovens de 80 anos”, e pessoas que são “velhas com 30 anos”. Ou seja, para além das características já apontadas, há ainda factores que qualificam a pessoa numa das duas categorias. A atitude pessoal face à vida, o desenvolvimento e a manutenção de actividades intelectuais e cognitivas, o envolvimento em tarefas “laborais” agradáveis, a prática de algum desporto adaptado à saúde e idade da pessoa e, porque não dizê-lo, a prática de hábitos de vida (repouso, alimentação, higiene) saudáveis, são alguns desses factores.
Atitude face à vida
Para que a velhice não seja um martírio, é importante que a pessoa avançada na idade comece, antes de entrar na fase da reforma, a preparar o seu espírito para esse momento. Geralmente, a transição dá-se de forma brusca, uma vez que, ao parar a sua actividade, a pessoa está “programada” para continuar ao mesmo ritmo, com a mesma intensidade, com as mesmas responsabilidades. A passagem para a reforma representa uma mudança radical nesse ciclo. Por isso, será muito útil que a pessoa que se aproxima da idade da reforma se vá desligando, pouco a pouco, das suas obrigações e diminuindo o ritmo, ocupando esse tempo livre com novas actividades e interesses, menos exigentes em questão de tempo e energias, mas mais voltadas para o lazer e entretenimento.
Quem entra na terceira idade com a sensação de que está na recta final e de que já pouco ou nada vale, perde uma oportunidade excepcional de viver novas experiências, de criar novas emoções e de desfrutar de novas amizades e oportunidades.
Manter um nível de ocupação de tempo adequado à sua energia e mobilidade é fundamental.
Também é importante que o idoso olhe para a sua vida (passada, presente e futura) de forma positiva e esperançosa. Olhando para trás, será bom que veja o que de agradável e positivo ela teve, e que guarde na sua memória esses momentos mais aprazíveis. Mas, ao olhar para o presente, deve analisar o que vive, com a noção de que está numa fase diferente da vida, à partida nem pior nem melhor do que a anterior, mas na qual ainda tem muito a oferecer. Talvez veja diminuídas algumas das suas capacidades, talvez a saúde falhe nalguns momentos, mas uma visão optimista de si mesmo e da sua situação será o pano de fundo para que organize o seu tempo e a sua actividade, pensando em “projectos” que lhe darão prazer e ânimo. Quanto ao futuro, ele dependerá dessa visão e do envolvimento do idoso nos planos que tenha preparado. Ficar parado no tempo, sem criar um plano e sem se motivar para ele, será determinante na perda da auto-estima, da identidade, das capacidades. O mesmo é dizer que, nesse caso, o idoso fica mais vulnerável a pensamentos negativos e a reflexões autodestrutivas. É nesse contexto que surgem, muitas vezes, problemas mentais (loucura senil, Alzheimer...), depressões e uma degradação rápida da saúde em geral.
Actividade intelectual
Um dos maiores perigos para a manutenção do bem-estar mental de um idoso é a paragem da actividade intelectual. Quando se põem de lado as capacidades comunicacionais, lógicas e de reflexão que o nosso cérebro tem, os neurónios acabam por definhar e morrer.
Uma actividade mental regular, abarcando áreas de interesse pessoal, como a leitura, a conversação, a reflexão sobre a vida diária, a “discussão” de temas que exijam argumentação e análise, é um meio