Introdução
A saúde e a doença dependem de muitos factores: clima, higiene,
desporto, constituição alimentação e sobretudo de influências psíquicas. Cada
um destes factores tem a sua importância, e em qualquer ocasião pode influenciar
todos os outros. Geralmente, a alimentação desempenha o papel mais importante,
porque é dela que depende a saúde. Uma alimentação racional, pode por si só,
dar saúde e resistência, tudo isto mesmo numa habitação sem luz, húmida e
desprovida de higiene; em contrapartida, uma má alimentação pode arruinar a
saúde, mesmo que se disponha de uma casa cheia de sol, duma grande propriedade
e se faça muito desporto. Os factos são confirmados por exames clínicos. Todas
as pesquisas feitas no que se refere à saúde revelam-se particularmente furtuitas
no domínio da alimentação.
Entre outras razões para adoptarmos uma dieta vegetariana
destacam-se as seguintes: anatómicas e fisiológicas, higiénicas, de saúde,
económicas, estéticas, ecológicas e éticas.
Anatómicas e
Fisiológicas
O estudo comparativo da anatomia e fisiologia dos animais
carnívoros, herbívoros e frugívoros demonstra que a dieta frugívora e herbívora
é mais adequada ao homem. Os seguintes dados são um resumo de tais estudos.
Carnívoros
Têm garras.
Não têm poros. Transpiram pela língua.
Dentes caninos frontais alongados, fortes e pontiagudos para
rasgar a carne.
Ausência de dentes molares posteriores para triturar
alimentos.
Glândulas salivares pequenas na boca (glândulas bem
desenvolvidas são necessárias na pré-digestão de cereais e frutas).
Saliva ácida.
Ausência de ptialina, enzima responsável pela pré-digestão
dos cereais.
Trato intestinal 3 vezes o tamanho do corpo, para que a
carne em decomposição possa ser eliminada rapidamente.
Estômago simples e arredondado.
Forte concentração de ácido clorídrico no estômago, para
digerir a carne.
Cólon liso.
Urina ácida.
Mandíbula alongada para a frente.
Alimento: carne.
Frugívoros
Não têm garras.
Transpiram através de milhares de poros.
Ausência de dentes caninos frontais pontiagudos.
Dentes molares posteriores achatados, para triturar.
Glândulas salivares bem desenvolvidas, necessárias à
pré-digestão de cereais e frutas.
Saliva alcalina.
Profusão de ptialina.
Trato intestinal aproximadamente 8 vezes o comprimento do
corpo.
Estômago com um duodeno como segundo estômago.
Ácido do estômago 20 vezes menos concentrado que nos
carnívoros.
Cólon convoluto.
Urina alcalina.
Mandíbula curta.
Alimento: frutas e nozes.
Herbívoros
Não têm garras.
Transpiram através de milhares de poros.
Ausência de dentes caninos frontais pontiagudos.
Dentes molares posteriores achatados, para triturar.
Glândulas salivares bem desenvolvidas, necessárias à
pré-digestão de cereais e frutas.
Saliva alcalina.
Profusão de ptialina.
Trato intestinal aproximadamente 8 vezes o comprimento do
corpo.
Estômago em 3 ou 4 compartimentos.
Ácido do estômago 20 vezes menos concentrado que nos
carnívoros.
Cólon convoluto.
Urina alcalina.
Mandíbula levemente alongada.
Alimento: relva, ervas e plantas.
Homem
Não tem garras.
Transpira através de milhares de poros.
Ausência de dentes caninos frontais pontiagudos.
Dentes molares posteriores achatados, para triturar.
Glândulas salivares bem desenvolvidas, necessárias à
pré-digestão de cereais e frutas.
Saliva alcalina.
Profusão de ptialina, para pré-digerir cereais.
Trato intestinal aproximadamente 7 vezes o comprimento do
corpo.
Estomago com um duodeno como segundo estômago.
Ácido do estômago 20 vezes menos concentrado do que nos
carnívoros.
Cólon convoluto.
Urina alcalina.
Mandíbula curta.
Alimento adequado: cereais, vegetais, frutas e nozes.
Como vemos, os animais mais próximos do homem, anatómica e
fisiologicamente, são frugívoros ou herbívoros. Várias características indicam
diferenças pronunciadas entre os animais herbívoros e frugívoros e os
carnívoros, mas vale a pena destacar o comprimento do intestino, que nos
carnívoros é aproximadamente 3 vezes o comprimento do corpo enquanto no homem é
cerca de 7 vezes. Isto faz com que os carnívoros tenham uma digestão bastante
rápida, eliminando a seguir tudo o que não é absorvido. Já o homem tem uma
digestão muito lenta, por ter um intestino longo. Isto faz com que a carne, que
já estava em processo de decomposição desde a morte do animal, continue a
decompor-se no interior de seu intestino, causando muitos problemas de saúde
por causa das toxinas libertadas.
Um dos melhores indicadores de que a alimentação vegetariana
é mais apropriada ao homem, são os muitos benefícios para a saúde encontrados
em dietas à base de vegetais e as inúmeras enfermidades ligadas ao consumo da
carne. Além disso, pela análise química e comparação das propriedades
nutritivas dos vegetais e da carne, observamos que é possível obtermos do reino
vegetal o suficiente para a constituição dos tecidos e a nutrição do corpo.
Higiénicas
As carnes são nocivas ao organismo porque ao dar-se a morte
violenta do animal suspendem-se, os actos digestivos e as funções eliminatórias
e excretoras. O alimento ingerido que o animal não pode utilizar e as impurezas
dos seus tecidos resultantes das trocas nutritivas ficam armazenadas no cadáver
do animal e passam ao corpo humano com a ingestão da sua carne.
A carne deteriora-se com enorme rapidez. A decomposição
inicia-se imediatamente após a morte e só é detectada pelo olfacto quando já
alcançou um estado avançado. Ainda que o calor da cozedura destruísse os micróbios,
como afirma a ciência médica, ficam por outro lado, armazenados na carne
milhões ou biliões de cadáveres microbianos que passam em seguida ao organismo
após a sua ingestão. Essa enorme massa cadavérica há-de influir,
indubitavelmente, na formação do terreno orgânico propício para a eclosão das
doenças infecciosas agudas e de carácter geral. A média de gérmen, de 65.000
por mm3 de fezes no carnívoro, baixa para 2.000 por mm3 no vegetariano. Esses
gérmenes extinguem os gérmenes saprófitas, benfeitores, daí a frequência de
apendicite, diverticulose, colite e enterite entre os que consomem carne.
De Saúde
A etiologia é a parte da medicina que estuda a origem e as
causas das doenças. Toda a investigação encaminhada no sentido de descobrir a
origem das doenças entra no domínio da etiologia. Esta tem por objecto o
conhecimento dos princípios prejudiciais à vida do ser humano.
A etiologia é a base da patologia e da terapêutica, pois sem
o conhecimento das verdadeiras causas das doenças não é possível apreciar com
exactidão a natureza dum processo patológico que atacou um orgão ou um sistema,
nem quais são os meios curativos apropriados para reparar as lesões orgânicas
ou para restabelecer a função alterada.
Em estado de saúde, todas as funções do organismo se
verificam duma maneira normal, de modo que, nem sequer sentimos esse
funcionamento.
Quando uma ou várias funções, tais como digestão, nutrição,
circulação, respiração, secreção e excreção, não se realizam normalmente,
verifica-se automaticamente, uma mudança no estado de saúde, que se manifesta
por mal-estar, inflamação, dor, febre, congestão, más digestões e por outros
sintomas que indicam a presença de uma doença em determinado órgão ou sistema.
A American National Academy of Sciences, relatou, em 1983,
que "…pessoas podem prevenir muitos tipos de cancro, comendo menos carnes
gordas e mais legumes e grãos".
Segundo a Dra. Jacqueline André (André, 1990), o consumo
excessivo de carne é nocivo por muitas razões:
A carne é rica em gorduras, favorecendo, portanto, a arteriosclerose
e o enfarte do miocárdio, os cancros colon-rectais e a obesidade.
O facto de ser rica em colesterol faz dela uma causa de
cancros hormonodependentes (mama, próstata, útero).
O facto de ser rica em ácidos nucleicos faz dela um factor
de cálculos urinários, hiperuricémias e gota.
Os resíduos de antibióticos nela contidos podem, muito
frequentemente, causar alergias.
Os antibióticos, de cujo uso (veterinário ou a título de
aditivos alimentares) na preparação industrial da carne necessita, são um
factor de resistências transferíveis.
A rápida sensação de saciedade que sua ingestão provoca,
pode levar o consumidor a reduzir exageradamente a porção de fibras vegetais na
sua dieta alimentar, o que é, sobretudo, um factor de prisão de ventre, de
diabete e de cancros colon-rectais.
Aquele que retira a maior parte das suas proteínas da carne,
frequentemente negligencia o consumo de leguminosas; esta situação pode
conduzir a carências de magnésio, responsáveis principalmente por distúrbios do
ritmo cardíaco, depressões nervosas e oxalato na urina.
O Dr. Alberto Lyra (Lyra, 1973) aponta os seguintes
inconvenientes da carne como alimento:
Alimento antinatural. O homem não fabrica amoníaco para
neutralizar os ácidos resultantes do metabolismo da carne, como o fazem os
carnívoros.
Alimento tóxico. A carne é um veneno lento mas seguro. Ela
possui toxinas (venenos), resultantes da decomposição cadavérica, e outras
resultantes do metabolismo animal, que ficam retidas e produzem mais toxinas
pela desassimilação nos intestinos.
Alimento acidificante. Produz ácido fosfórico, sulfúrico e
úrico, causadores de acidez humoral e de irritações esclerosantes. As proteínas
em excesso são acidificantes e mucógenas.
Alimento desmineralizante. Os ácidos produzidos pela carne
produzem desmineralização ao serem neutralizados no organismo.
Alimento excitante. A carne é um excitante muito forte,
equiparável ao álcool, devido às substâncias tóxicas e extractivas dela
provenientes. A sensação de vigor é esgotante, o que provoca o consumo de mais
excitantes (álcool, açúcar, mais carne etc.). Surge uma aparência de vigor,
devido à excitação, e cria-se um apetite enganador, que faz repelir os
alimentos suaves. Daí a depressão inicial naqueles que abandonam o uso da
carne. Devido ao seu poder excitante, que faz gastar as reservas vitais, e ao
seu poder tóxico, a carne é um dos factores da abreviação da vida.
Alimento que contribui para o aparecimento de diversas
doenças e degenerações humanas: Apendicite, arteriosclerose, artritismo,
eczema, enterite, gastrite, nefrite, reumatismo, úlcera gástrica, vegetações
adenóides.
Transmissor de doenças contagiosas e parasitárias:
Brucelose, intoxicações alimentares, salmonelose, ténia (solitária),
triquinose, tuberculose. No decurso de enfermidades do fígado, dos rins, dos
intestinos, da pele, de perturbações nervosas, não há melhor regime do que o
vegetariano.
Económicas
Há cada vez mais pessoas a optarem conscientemente por uma
alimentação vegetariana. As razões são várias: alguns combatem o mal trato
animal, outros a exploração do ambiente e outros ainda, optam por consumir alimentos
mais saudáveis.
A carne alimenta poucos à custa de muitos. Isto é, segundo
informações do Departamento de Agricultura dos E. U. A., mais de 90% dos
cereais produzidos naquele país são destinados ao alimento de gado: vacas,
porcos, ovelhas e galinhas.
Estéticas
O comércio de carne é uma das principais fontes de
brutalidade que há no mundo. O vegetarianismo promove beleza, o amor, o
respeito e a cultura. A comparação dos horríveis espetáculos, sons e odores de
um matadouro, com a beleza e o perfume de uma horta ou de um pomar, não deixa
lugar a dúvidas quanto a esta questão.
Ecológicas
O problema nº 1 da saúde no mundo, é a destruição crónica.
A criação de gado devasta imensas áreas verdes naturais. O
homem provoca desequilíbrios na Natureza, ao alterar processos evolutivos
normais de animais e vegetais. A demanda por carne barata, é uma das principais
causas da destruição das florestas tropicais e outras florestas em todo o
mundo. Isto contribui para a extinção das espécies e a desertificação, além da
poluição causada pelo dióxido de carbono.
Éticas
O vegetarianismo está a alcançar cotas de popularidade
desconhecidas e a cada dia se generaliza mais a convicção de que o estilo de
vida vegetariano é o mais são, compassivo e com mais respeito pelo meio
ambiente; no entanto, apesar da grande informação disponível aos consumidores,
alertando para os perigos a que conduz o consumo de produtos de origem animal e
das múltiplas vantagens de uma dieta isenta de carne, as pressões dos grandes
interesses comerciais, políticos e religiosos, para manterem o estatuto de
controlo das ideias e do capital dos seus potenciais clientes ou seguidores,
continua a distorcer e a debilitar o enorme impacto social da mensagem
vegetariana.
Muitas pessoas consideram as razões éticas como as mais
importantes para tornar-se vegetariano. Num estudo chamado Acerca de comer
carne, o autor romano Plutarco, escreveu: "Podes perguntar porque razão
Pitágoras se abstinha de comer carne? Por mim, espanta-me muito e pergunto-me
que grande distúrbio ou estado mental o do primeiro homem que levou aos seus
lábios a carne de uma criatura morta, cobrindo a sua mesa de corpos mortos e
pálidos e se aventurou a chamar alimento e nutrição, a esses seres que em algum
momento se alegraram, choraram, movimentaram e viveram…? Como puderam os seus
olhos suportar a matança, quando as suas gargantas eram cortadas e os seus
membros esquartejados? Como pode o seu nariz suportar tais odores? (…)
certamente não comemos leões e lobos por autodefesa, pelo contrário, matamos
criaturas dóceis que nem sequer têm dentes para ferir-nos. Por um pouco de
carne, privamo-los do sol, da luz e da vida à qual têm direito".